"É muito triste", disse o jovem de 26 anos, visivelmente nervoso durante o início do julgamento em que é acusado de cinco homicídios por negligência e quatro ofensas à integridade física por negligência, face ao acidente, em 2015, que provocou cinco mortos e quatro feridos, de um grupo de cerca de 80 peregrinos que se deslocava de Mortágua em direção a Fátima.

No tribunal de Coimbra, perante o coletivo de juízes, o arguido admitiu que foi ele que provocou "a tragédia", frisando, porém, que "nem tudo" o que está na acusação do Ministério Público (MP) é verdade.

O jovem, que residia em Penela, sublinhou que bebeu "umas cervejas" em Coimbra, mas não "estava embriagado - se estivesse não tinha conduzido" (a acusação fala de uma taxa de alcoolemia de 0,9 gramas/litro de sangue).

Sobre a presença de substâncias psicotrópicas encontradas na amostra de sangue, referiu que pode ter "mandado uma ou outra passa" com os amigos, em Coimbra.

"Eu acho que moderei a velocidade", frisou o jovem, contando que deveria estar a 60 a 80 km/hora quando sentiu a traseira do carro fugir-lhe, por volta das 03:45, à saída de uma curva no Itinerário Complementar (IC) 2, próximo de Cernache, localidade de Coimbra.

Ainda tentou segurar o carro, mas perdeu o controlo da viatura, acabando por ir embater contra o grupo de peregrinos, colhendo nove pessoas, contou, sem conseguir dar uma justificação para o despiste da viatura.

"Não consegui ver nada, rigorosamente nada. Fiquei parado e as pessoas começaram a agredir-me verbal e fisicamente", contou aos juízes.

O arguido frisou ainda que pode ter buzinado contra os peregrinos, mas não no trajeto para Penela, à noite, mas quando ia a caminho de Coimbra e se deparou com peregrinos que invadiam a faixa reservada para os veículos.

"Eu não quero culpar ninguém. Fui eu que provoquei esta tragédia", salientou o jovem de 26 anos, referindo que neste momento trabalha e tem uma casa juntamente com a sua namorada.

Quando questionado pela defesa se o acidente também foi uma experiência traumática para ele, o arguido, apesar de dizer que já nada é "como era dantes", recusou-se a falar de si próprio: "Magoei muita gente. Não posso falar de mim".

As primeiras testemunhas a serem ouvidas no julgamento que começou hoje foram as pessoas que ficaram feridas com o despiste do veículo.

"Só me lembro de estar no chão, de começar a chorar e de ouvir alguém a pedir socorro. Estava com muito frio e alguém do apoio [do grupo de peregrinos] deu-me o casaco e eu pedi para não me deixarem sozinha", contou uma jovem que foi colhida pelo veículo, emocionada, enquanto o arguido tapava a cara, sentado no banco dos réus.

Já Miguel Ângelo, outro dos feridos, que esteve inconsciente durante "15 a 20 minutos", recorda-se de "uma troca de socos" entre um camionista - que tinha chegado ao local do acidente - e o arguido, "que parecia que queria fugir".

Os amigos do arguido, que seguiam noutros dois carros aquando do despiste, "estavam a tentar acalmá-lo", disse.

O acidente aconteceu em Coimbra, por volta das 03:45, a 02 de maio de 2015, um sábado, quando o automóvel do arguido se despistou à saída de uma curva, no IC2.

De acordo com o MP, o jovem fez uma condução "com acelerações e travagens bruscas, a uma velocidade desadequada [alegadamente acima do máximo permitido - 70 km/hora]", num piso onde tinha chovido "recentemente".