“Na Reforma Agrária no Alentejo, há momentos em que tem uma vida autónoma. Em Portugal inteiro, a Constituição está a começar a funcionar [após 1976], a maioria dos votos são 39% no PS, mais 25% do PPD e, no Alentejo, as coisas não correm assim”, afirma António Barreto em entrevista à Lusa na passagem dos 40 anos sobre a aprovação da chamada Lei Barreto”, aprovada a 22 de julho de 1977.

Na Zona de Intervenção da Reforça Agrária (ZIRA), no Alentejo e parte do Ribatejo, o “PCP consegue ter 40% ou 50% dos votos”, o que dá ânimo ao processo que já foi descrito como a “revolução alentejana”.

Daí que a estratégia tenha sido “consolidar” posições, de acordo com o investigador que viu o seu livro “Anatomia de uma Revolução — A Reforma Agrária em Portugal” reeditado 30 anos depois pela D. Quixote.

Ou seja, “o país inteiro olhou para a ZIRA como uma fronteira de prevenção”, isto é, que não haveria Reforma Agrária nem a Norte nem a Centro, e não percebeu que “a ZIRA era a defesa do PC”.

Olhando para trás, o ministro de Mário Soares que viu o seu nome “pinchado” nas paredes — “Abaixo a Lei Barreto” ou “Barreto fora” — afirma que antecipou algumas dificuldades na aplicação do diploma, que previa, numa primeira fase, a entrega parcial de terras aos proprietários.

E acreditou que o PCP, depois de “uns momentos de reação”, se adaptaria ao facto de estar em perda e não levantaria muitos problemas.

“Convenci-me de que o fenómeno da relação de forças ia funcionar. Ou seja, quando eles [comunistas] perceberem que estão a perder e vão perder, aceitam a segunda solução que é a melhor. Acabaram por ter a pior de todas que foi ficar sem nada. As UCP desapareceram”, recordou.

Na entrevista à Lusa, António Barreto recorda “conversas com dirigentes do PC” a quem pediu que colaborassem na aplicação da lei. Com o argumento de que, devolvendo parte das terras ao proprietário, uma parte ficaria para os trabalhadores.

“Eles não queriam saber”, disse.

Nos anos seguintes a 1977, mudaram governos (do PS/CDS, Lourdes Pintasilgo, PPD/PSD), a lei foi “alterada quatro ou cinco vezes, deixou de haver a ideia de Reforma Agrária, de reservas, de distribuição de terras”.

“E tudo foi desaparecendo”, concluiu.