Estas posições comuns a António Costa e a Marques Mendes foram transmitidas durante a sessão de apresentação do segundo volume da biografia de Jorge Sampaio, livro da autoria do jornalista José Pedro Castanheira, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian.

A sessão contou com a presença do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, do fundador do PSD e antigo primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão, do presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Silva, do ex-coordenador do Bloco de Esquerda Francisco Louçã, do dirigente histórico comunista e membro do Conselho de Estado Domingos Abrantes, entre outras personalidades.

Na plateia, que se encontrava completamente cheia, estavam ainda o ex-presidente do Tribunal de Contas Guilherme D'Oliveira Martins, o ensaísta e conselheiro de Estado Eduardo Lourenço, o administrador da Caixa Geral de Depósitos Rui Vilar e o ex-líder parlamentar do PS Alberto Martins.

Falando após o jornalista José Pedro Castanheira, o secretário-geral do PS e primeiro-ministro defendeu que Jorge Sampaio tem por vezes junto dos portugueses uma imagem de pessoa "amabilíssima e civilizadíssima, o que por vezes se associa a alguma indefinição pessoal".

"Indefinição pessoal por Jorge Sampaio não ter a caraterística de fazer discursos cortantes. Mas a verdade é que, em todos os momentos decisivos que enfrentou, Jorge Sampaio nunca hesitou", defendeu António Costa.

António Costa, que foi diretor da campanha presidencial de Jorge Sampaio em 1996, considerou que o antigo chefe de Estado "não hesitou quando decidiu candidatar-se a presidente da Câmara de Lisboa em 1989, triunfando depois nesse ato eleitoral".

"Também não hesitou quando, após a derrota do PS nas eleições legislativas de 1991, não aceitou a cómoda proposta de ser presidente do partido, entregando o cargo de secretário-geral a António Guterres. Mesmo sabendo que estava [perante António Guterres] em desvantagem quis ir à luta e contar votos", referiu o atual primeiro-ministro.

António Costa afirmou também que Jorge Sampaio tomou uma decisão de risco quando, ainda sem ter garantido o apoio do PS, anunciou a sua candidatura ao cargo de Presidente da República, assumindo-se então como o candidato "de toda a esquerda" e fazendo depois com que Cavaco Silva tivesse nesse ato eleitoral a única derrota da sua carreira política.

"Vejo a carreira política de Jorge Sampaio com duas caraterísticas que muito aprecio: Coragem política e frontalidade", declarou por sua vez o antigo ministro social-democrata Luís Marques Mendes.

Marques Mendes apontou como exemplos de coragem as decisões de Jorge Sampaio quando "não cedeu às pressões do PS" e nomeou Pedro Santana Lopes primeiro-ministro para suceder a Durão Barroso em 2004, e quando meses depois dissolveu a Assembleia da República.

"Mas Jorge Sampaio também resistiu às pressões para que o Procurador-Geral da República Souto Moura fosse demitido em consequência do processo Casa Pia", referiu.

Neste contexto, António Costa acrescentou que Jorge Sampaio "pondera tudo, o que não significa hesitação, mas rigor e exigência consigo próprio".

Costa relembra vitória de Sampaio em Lisboa. "Sampaio derrotou Marcelo para a Câmara de Lisboa porque foi autêntico"

O secretário-geral do PS sustentou hoje que Jorge Sampaio derrotou Marcelo Rebelo de Sousa na corrida à Câmara de Lisboa, em 1989, porque foi "autêntico" no decisivo debate televisivo, ao contrário do atual chefe de Estado.

António Costa falava na sessão de apresentação do segundo volume da biografia de Jorge Sampaio, da autoria de José Pedro Castanheira, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Após salientar que não estava na sessão na qualidade de primeiro-ministro, António Costa referiu-se às dificuldades que Jorge Sampaio, então líder do PS, enfrentou nas eleições para a Câmara de Lisboa diante de Marcelo Rebelo de Sousa em 1989 e apontou uma explicação para a sua vitória.

"A autenticidade de Jorge Sampaio [que liderou uma lista conjunta com o PCP e UDP] foi o fator capital na primeira campanha que travou para a presidência da Câmara Municipal de Lisboa, em que derrotou a coligação PSD/CDS liderada por Marcelo Rebelo de Sousa. Nessa campanha, Jorge Sampaio partiu em desvantagem e esteve mesmo quase até ao fim em desvantagem", disse António Costa.

Segundo o atual líder do executivo, o ponto de viragem na campanha foi o debate televisivo com Marcelo Rebelo de Sousa.

"Jorge Sampaio estava preocupado com esse debate, achando que inevitavelmente o levaria à derrota. Dizia que o professor Marcelo é brilhante, fala muito bem, é criativo e, como tal, é imbatível em debate. Nós dissemos a Jorge Sampaio que o debate, pelo contrário, era o momento para ele marcar a diferença. Dissemos-lhe que havia uma coisa fundamental a fazer no debate, ser autêntico", contou o atual líder socialista.

Ora, de acordo com António Costa, no frente-a-frente com Marcelo Rebelo de Sousa, Jorge Sampaio "foi tão esmagador que inverteu depois as sondagens e ganhou as eleições".

"Jorge Sampaio foi nesse debate o advogado, que tinha uma causa para defender, foi autêntico e contou com uma enorme vantagem: O seu adversário não foi autêntico", considerou o secretário-geral do PS e primeiro-ministro.

Na perspetiva de Costa, antes desse debate, provavelmente Marcelo Rebelo de Sousa foi mal aconselhado.

"Depois de já ter mergulhado no Tejo e de ter conduzido um táxi, num frenesim bastante intenso, provavelmente disseram a Marcelo Rebelo de Sousa que tinha ali de mostrar uma grande ponderação, porque Jorge Sampaio é mais velho e figura de respeitabilidade".

"Marcelo Rebelo de Sousa entrou nesse debate a querer ser outra pessoa, outra pessoa que ele não é ainda hoje", afirmou, justificando as causas da derrota do atual Presidente da República nas eleições para a Câmara de Lisboa em 1989.

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