Dois homens abriram fogo numa mesquita na Cidade do Quebec num ataque que provocou seis mortos e oito feridos, acto considerado pelo primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, como "ataque terrorista". De acordo com a agência Reuters, dois suspeitos terão sido presos, mas, segundo outra agência noticiosa, a AFP, as autoridades não descartam a possibilidade de um terceiro suspeito, ter conseguido fugir do local. Os relatos iniciais referiam um ataque perpetrado por três atirados que teriam disparado sobre as cerca de 40 pessoas que se encontravam em oração no Centro Cultural Islâmico da Cidade do Quebec, mas a polícia canadiana avançou posteriormente que apenas duas pessoas teriam estado envolvidas no ataque.

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, qualificou o caso como “um ataque terrorista contra muçulmanos”. "Os muçulmanos-canadianos uma parte importante do nosso tecido nacional e estes actos sem sentido não têm lugar nas nossas comunidades, cidades ou país", afirmou.

“Esta noite os canadianos lamentam os mortos num cobarde ataque numa mesquita da cidade do Quebeque. Os meus pensamentos estão com as vítimas e as suas famílias”, disse ainda Trudeau na sua conta de Twitter.

"Está confirmada a morte de seis pessoas com idades entre os 35 e os 70 anos", revelou a porta-voz da polícia de Quebec, Christine Coulombe.

O presidente da mesquita atacada, Mohamed Yangui, que não se encontrava no local quando ocorreu o ataque, disse que tinha sabido do que estava a acontecer pelas inúmeras chamadas que recebeu. "Porque é que isto está acontecer aqui? Isto é barbárie!", afirmou.

A polícia iniciou uma vasta operação após tiroteio, que aconteceu durante a oração noturna.De acordo com testemunhas, dois homens com máscaras entraram na mesquita por volta das 19H15 de domingo."Parte o coração ver esta violência sem sentido", afirmou Trudeau, antes de acrescentar que a "diversidade é nossa fortaleza e a tolerância religiosa é um valor que, como canadianos, valorizamos".

Suspeito telefonou à polícia para se entregar 

Um dos dois supostos autores do tiroteio telefonou para a polícia para se entregar, revelou já esta segunda-feira o inspetor Denis Turcotte.

O homem, que terá entre 20 e 30 anos, telefonou para o número de emergência às 20h10 locais de domingo, cerca de 15 minutos depois do ataque, explicou o inspetor.

O primeiro suspeito já havia sido detido.

Os meios de comunicação locais identificaram os suspeitos, que se chamariam Alexandre Bissonnette e Mohamed Khadir - o segundo supostamente de origem marroquina -.

No entanto, a polícia não quis confirmar suas identidades, limitando-se a referir que ambos são canadianos.

Esta ataque tem lugar no mesmo fim de semana que o primeiro-ministro canadiano disse que o Canadá acolheria refugiados, depois de o presidente americano Donald Trump ter suspendido o programa de acolhimento no país e barrado temporariamente a entrada a muçulmanos de sete países.

Greg Fergus, deputado liberal canadiano, escreveu na sua conta de Twitter que o que é aconteceu é "uma acto de terrorismo- o resultado de anos de sermões sobre os muçulmanos. As palavras importam e os discursos de ódio têm consequências".

O líder da província do Quebec, Philippe Couillard, afirmou por seu lado que a segurança iria ser refoçada nas mesquitas da Cidade de Quebec e de Montreal. "Estamos do vosso lado. Estão em casa", afirmou, dirigindo-se à comunidade muçulmana. "São bem-vindos nesta vossa casa. Somos todos do Quebec. Temos de continuar juntos para construir uma sociedade aberta e pacífica".

Também o mayor de Nova Iorque, Bill de Blasio informou que a polícia da cidade iria dar proteção adicional às mesquitas, atendendo aos acontecimentos no Quebec.  "Todos os nova-iorquinos devem estar vigilantes.  Se virem alguma coisa, digam alguma coisa", escreveu no Twitter. O mayor nova-iorquino também se dirigiu em especial à comunidade muçulmana da cidade, garantindo a proteção e prometendo que combaterão o ódio e a discriminação.

As condenações ao ataque chegaram também de França, pela voz do presidente Francois Hollande. "Os terroristas quiseram atacar o espírito de paz e de tolerância dos cidadão do Quebec. A França está ao lado das vítimas e das suas famílias".

Em junho de 2016, tinha sido deixada uma cabeça de porco na entrada do centro cultural islâmico onde se encontra a mesquita ontem atacada, o que na altura foi interpretado como um acto de provocação ou intimidação. "Não estamos seguros aqui", disse Mohammed Oudghiri, um membro da comunidade muçulmana de Quebec e que frequenta regularmente a mesquita. Ontem  não estava lá, mas, depois de 42 anos no Quebec, sente-se "muito preocupado" e pensa em regressar a Marrocos de onde é oriundo.

"É um dia triste para todos os cidadãos do Quebec e para todos os canadianos por vermos um ataque terrorista na pacífica Cidade do Quebec" afirmou Mohamed Yacoub, co-presidente de um centro comunitário islâmico em Montreal. "Espero que seja um incidente isolado."

Cabeças de porco, incêndios e agora um atentado

Apesar de ser uma província apresentada por todos como pacífica, à semelhança aliás de todo o Canadá, nos últimos anos, os incidentes envolvendo a comunidade islâmica aumentaram no Quebec. O véu usado pelas mulheres muçulmanas foi um tema em discussão nas eleições de 2015, especialmente nesta província onde a maior parte da população defendia que fosse banido em cerimónias oficiais.

Em 2013, a polícia investigou um ataque a uma mesquita em Saguenay, a cujas paredes teria sido atirado sangue de porco. Em Ontario, foi ateado fogo a uma mesquita no dia a seguir aos ataques de novembro de 2015 em Paris.

Zebida Bendjeddou, membro do Centro Cultural Islâmico da Cidade do Quebec cuja mesquita foi ontem atacada, revelou que o centro tem recebido ameaças.  "Em junho colocaram uma cabeça de porco na entrada da mesquita. Mas pensámos: 'são incidentes isolados'. Não levámos a sério. Mas esta noite esses incidentes isolados passaram a ter outro alcance".

O ataque acontece no momento em que o Canadá promete abrir as portas aos muçulmanos e refugiados, depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter assinado um polémico decreto que suspende a entrada dos refugiados e cidadãos de sete países muçulmanos, o que provocou o caos nas viagens e indignação no mundo.

O Canadá oferecerá temporariamente vistos de residência a várias pessoas retidas no país como resultado do decreto de Trump, informou no domingo o ministro da Imigração, Ahmed Hussen.

Trump suspendeu a entrada de refugiados nos Estados Unidos por 120 dias e de cidadãos de sete países de maioria muçulmana (Irão, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iémen) por 90 dias.

Hussen, de origem somali, não condenou a medida dos Estados Unidos, mas enfatizou que o Canadá pretende manter uma política de imigração baseada na "compaixão", ao mesmo tempo que protege os seus cidadãos."Damos as boas-vindas aos que fogem da perseguição, do terror e da guerra", disse, repetindo a mensagem de sábado do primeiro-ministro Justin Trudeau.

De acordo com o último censo do Canadá, realizado em 2011, uma a cada cinco pessoas no país nasceu no exterior.O Canadá recebeu 39.670 refugiados sírios entre novembro de 2015 e o início de 2017, segundo o governo.

[artigo atualizado às 18:59]

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