Contactado pela agência Lusa, o autarca retratou que "cerca de 80% da manta verde do Pinhal de Leiria já ardeu" e alertou para "todas as consequências que isso acarreta".

Paulo Vicente referiu que se vive um "cenário devastador e dantesco" no concelho.

Já no início de agosto, o presidente da Câmara da Marinha Grande se tinha mostrado preocupado com a falta de limpeza da Mata Nacional de Leiria, que ocupa dois terços do concelho, principalmente junto às estradas florestais.

Na altura, também a Quercus alertou para o desinvestimento do Estado nesta matéria, sobretudo na ótica da defesa da floresta contra incêndios.

"No que se refere à limpeza da mata, ela não estará assim tão bem quanto seria desejável, mas das informações que possuo do ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas], eles têm pugnado para que esta limpeza seja feita", afirmou Paulo Vicente (PS), ressalvando que a mata "é exemplar" em termos de ordenamento e que está dividida por talhões e aceiros.

O autarca explicou há dois meses que compete às câmaras fazerem a gestão do combustível [limpeza] numa faixa mínima de 10 metros, em ambos os lados das vias, nas estradas municipais, obrigação que passa para a Infraestruturas de Portugal (IP), entidade que gere as Estradas Nacionais (EN) que atravessam o Pinhal de Leiria.

Também um investigador ouvido na altura pela agência Lusa alertou que a falta de limpeza, de manutenção e de tratamento da Mata Nacional de Leiria, que ocupa dois terços do concelho da Marinha Grande, poderiam potenciar a deflagração de incêndios e devastar grande parte do pinhal.

"O Pinhal de Leiria está sujeito a que aconteça um cataclismo enorme por falta de limpeza e de tratamento, que poderá provocar um incêndio que irá destruir a maior parte do Pinhal de Leiria", avisou Gabriel Roldão, 81 anos, estudioso do Pinhal de Leiria há mais de quatro décadas.

O também autor do livro "Elucidário do Pinhal do Rei", lançado em março deste ano, contou que "deixou de existir a ação conservadora do Pinhal de Leiria", propriedade do Estado, com 11.080 hectares, dividido em 342 talhões e que tem como espécie principal o pinheiro-bravo.

O distrito de Leiria conta com 17 ocorrências, que estavam a ser combatidas, pelas 14:00, por 761 operacionais, 226 meios terrestres e três meios aéreos.

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram pelo menos 31 mortos e dezenas de feridos, além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o Governo assinou um despacho de calamidade pública, abrangendo todos os distritos a norte do Tejo, para assegurar a mobilização de mais meios, principalmente a disponibilidade dos bombeiros no combate aos incêndios.

Portugal acionou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o protocolo com Marrocos, relativos à utilização de meios aéreos.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, no verão, um fogo que alastrou a outros municípios e que provocou 64 mortos e mais de 250 feridos.