Se nas suas intervenções em comícios o líder do PSD reserva sempre uma parte ao candidato e ao município onde discursa, a tónica está na mensagem nacional dirigida ao Governo e/ou aos partidos da ‘geringonça’, expressão que Passos utiliza agora de forma sistemática para se referir aos partidos que apoiam o Governo.

A herança que o executivo que liderou deixou ao atual Governo e a acusação de que o PS apenas está a “colher” o que foi semeado por PSD/CDS-PP até 2015 têm sido as mensagens mais persistentes no discurso de Passos Coelho, a par das contradições internas entre o PS, de um lado, e o PCP e BE, de outro, sobretudo em matérias de Europa e de defesa.

A lei da imigração, as obras públicas previstas e não concretizadas ou os números do défice foram temas que atravessaram esta campanha, com as acusações a subirem de tom entre PSD e PS nos últimos dias com acusações mútuas de falta de sentido de Estado.

Quando as iniciativas não incluem discursos – foram várias as visitas a instituições ou empresas – muitas vezes foi a reação do líder aos temas do dia que marcou a campanha, com uma presença discreta dos candidatos locais.

Passos Coelho teve alguns contactos com a população – Arcos de Valdevez (Braga), Alvalade (Lisboa) ou Barcelos (Braga), nas iniciativas públicas – e foi, de modo geral, bem recebido, mostrando-se mais distendido do que em outras campanhas quando era primeiro-ministro e parando para fotos, conversas e até autógrafos com populares.

Ainda assim, a campanha evitou as grandes arruadas – Passos não fará nem a descida do Chiado em Lisboa nem de Santa Catarina, no Porto – uma estratégia que o líder do PSD não atribui ao receio do risco mas ao facto de a sua ‘volta’ ter por estratégia integrar-se na campanha desenvolvida localmente pelos candidatos.

Em termos de mobilização, nas últimas duas semanas a campanha do PSD realizou dois grandes jantares, acima das duas mil pessoas – em Mafra (Lisboa) e em Paredes (Porto) – numa ‘volta’ pelo país que Passos Coelho começou a 01 de setembro.

Nesta reta final, sempre a norte do Tejo, o líder do PSD foi tendo a seu lado algumas figuras nacionais convidadas: até agora o único ex-líder a marcar presença foi Santana Lopes, mas o mais assíduo tem sido o ex-líder parlamentar Luís Montenegro.

A estrutura de campanha assumiu desde o início que Passos teria apenas duas a três ações por dia com a presença da comunicação social – o que se cumpriu – e os distritos mais visitados na reta final da campanha foram Lisboa, Braga, Leiria, Aveiro e Porto.

Durante a campanha oficial, pelo menos em iniciativas públicas, Passos Coelho não esteve, por exemplo, em Sintra, onde uma coligação PSD/CDS-PP/MPT/PPM apoia o candidato Marco Almeida, nem em Loures, onde o candidato social-democrata André Ventura vai somando polémicas.

Por três vezes, Passos já disse que quer voltar a ser primeiro-ministro em 2019 (e em melhores condições do que em 2011) e para domingo Passos tem reiterado que o objetivo é ficar em primeiro nas autárquicas, depois de há quatro anos o PSD ter tido menos 44 câmaras que os socialistas (coligações incluídas).

O líder do PSD já admitiu, contudo, que os sociais-democratas podem não conseguir esse objetivo e ainda assim reclamar “um bom resultado” na noite de 01 de outubro e tem frisado que a leitura nacional será “um somatório” das 308 eleições locais.

Os últimos dois dias da campanha terão passagens pelos concelhos de Lisboa, hoje, e do Porto, na sexta-feira, precisamente dois dos municípios cujos resultados poderão dar mais dores de cabeça ao líder do PSD.

Sem querer responder ao cada vez mais anunciado avanço de Rui Rio para a disputa da liderança do PSD, Passos Coelho já fixou o calendário interno: logo a seguir às autárquicas haverá Conselho Nacional mas apenas em novembro uma nova reunião deste órgão fixará a data das diretas (previsivelmente entre final de janeiro/início de fevereiro) e do Congresso, um mês depois.