"Senhor ministro da Economia, esteja onde estiver, senhor ministro do trabalho, senhor primeiro-ministro, que sempre que há más notícias prefere estar longe e ao largo, - entre o interesse de Portugal e os interesses do PCP e do BE escolham sempre o interesse nacional", apelou o deputado Pedro Mota Soares.

O deputado do CDS e antigo ministro do Trabalho responsabilizou PCP e BE por uma "guerrilha político-partidária que põe à frente do interesse nacional interesses internos", pedindo-lhes que "não instrumentalizem uma empresa e os seus trabalhadores".

Bruno Dias, pelo PCP, qualificou a declaração política dos centristas como uma "lamentável provocação" aos trabalhadores: "Está a falar de autómatos ou de homens e mulheres livres que decidem por si?"

"O que mudou na Autoeuropa foi a atitude da administração", contrapôs, argumentando que a defesa da produção não passa pela negação de direitos, nem pelos "trabalhadores deixarem de ver os filhos", numa referência às alterações de horários.

Também Joana Mortágua, do BE, defendeu que a administração da Autoeuropa está a servir-se do Código do Trabalho aprovado no anterior governo para "impor mudanças de horários unilaterais".

"O Código do Trabalho que ajudaram a construir está a matar o diálogo na Autoeuropa", acusou.

A social-democrata Mercês Borges alinhou com Mota Soares, dirigindo-se a PCP e BE: "Se um dia os sindicatos que os senhores tão bem orientam, se um dia levarem aquela fábrica ao extremo, sabem que a consequência, vai ser de novo um distrito de miséria, de pobreza, de bandeiras negras".

A Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa rejeitou na terça-feira a decisão da administração de avançar unilateralmente com novo horário de produção a partir de finais de janeiro e convocou plenários para dia 20 de dezembro.

A administração tinha comunicado a intenção de avançar unilateralmente, em finais de janeiro, com um novo horário de produção de 17 turnos semanais, face à rejeição de dois pré-acordos negociados previamente com a CT.

Embora se trate de um acordo imposto unilateralmente, a administração da Autoeuropa promete pagar os sábados a 100%, equivalente ao pagamento como trabalho extraordinário, que era uma das principais reivindicações dos trabalhadores. Este pagamento dos sábados a 100% poderá ainda ser acrescido de mais 25%, caso sejam cumpridos os objetivos de produção trimestrais.

A CT reiterou que "este modelo de horário e as suas condições são mais desfavoráveis e contrariam a vontade expressa pela maioria dos trabalhadores".

O novo horário, que entrará em vigor em finais de janeiro, deverá vigorar até ao mês de agosto de 2018. A Autoeuropa promete discutir o período após agosto com a Comissão de Trabalhadores.

Os novos horários de laboração contínua preveem quatro fins de semana completos e mais um período de dois dias consecutivos de folga em cada dois meses para cada trabalhador.