De regresso à cidade de São Filipe, junto ao mar, após o percurso até Chã das Caldeiras, que fica a cerca de dois mil metros de altitude, o chefe de Estado português adiantou que "já há ideias concretas" em discussão entre os dois governos em matéria de mobilidade.

"Não cabe ao Presidente da República estar a dizer as ideias concretas, mas eu conheço o documento, que tem prazos diferentes e regimes diferentes, e fases diferentes para acolher maiores estadias, mais curtas estadias, circulação que se quer no futuro que seja mais ampla", referiu Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente cabo-verdiano, Jorge Carlos Fonseca, disse que o ponto de partida em matéria de mobilidade é "uma proposta apresentada pelo Governo português, que já foi analisada pelo Governo de Cabo Verde, e que espera desenvolvimento".

Existe "a possibilidade de essa posição comum eventualmente ser abraçada por mais um ou outro país da CPLP", adiantou Jorge Carlos Fonseca.

Segundo o chefe de Estado português, o passeio de hoje no caminho de curvas e contracurvas até ao cimo da ilha do Fogo permitiu também falar da "parceria em renegociação entre Cabo Verde e a União Europeia".

"Há sempre um sonho legítimo de Cabo Verde, que tem a sua gente também em vários países da Europa, embora não tanto como em Portugal, de os ver circular mais. Portanto, é preciso jogar com essas peças do puzzle da combinação, e é isso que os governos estão a fazer", afirmou.

Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou que "é disso que os Presidentes também falam, e falam muito".

"Quando temos longas deslocações, como aqui houve de automóvel, vamos falando destes problemas ou destas questões, sempre com o mesmo objetivo, que já foi afirmado logo na cimeira da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa (CPLP) realizada no Brasil: abrir caminho a maior mobilidade", concluiu o Presidente português.

Jorge Carlos Fonseca confirmou que falou com Marcelo Rebelo de Sousa sobre "o apoio de Portugal no processo de revisão da parceria especial Cabo Verde/União Europeia, que está em curso e consubstancia uma visão estratégica".

Cabo Verde pretende um "aprofundamento e alargamento dessa parceria especial, sem ser membro da União Europeia, naturalmente", disse.

De acordo com o Presidente de Cabo Verde, a situação da Guiné-Bissau, a dívida cabo-verdiana, a obtenção da nacionalidade portuguesa, a possibilidade de os estudantes cabo-verdianos em Portugal terem acesso a trabalhos temporários e a cooperação empresarial foram outros temas de conversa.

"São questões também muitas delas tratadas ao nível das chefias dos dois governos. Portanto, é mais uma questão de reafirmação, de afinação e de, digamos, de cimentar de relações", enquadrou.

No alto da ilha do Fogo, Marcelo Rebelo de Sousa visitou uma pousada e uma adega onde se produz o famoso vinho local, que foram reconstruídas, depois de terem sido destruídas na última erupção na ilha do Fogo, que aconteceu entre novembro de 2014 e 2015.

"É impressionante como natureza, como capacidade de resistência, de fazer, refazer, construir, reconstruir", declarou. "Este é o retrato concreto da força deste povo que viemos aqui ver e admirar", acrescentou.

O Presidente português disse que, "infelizmente, não conhecia o Fogo e ultrapassa aquilo que tinha pensado", e comparou a resistência dos cabo-verdianos à dos portugueses: "Nisso somos iguais".

"E quando conjugamos as nossas vontades, então é a dobrar a nossa resistência", considerou.