As palavras são do lusodescendente Dominique da Silva, candidato da 7.ª circunscrição do Val d´Oise, na região de Paris, que perante os resultados a nível nacional e a sua própria liderança no seu círculo eleitoral fala em "algo histórico".

"Esta vaga é a confiança que o povo francês deu a Emmanuel Macron que conseguiu algo extraordinário. É algo nunca visto na história política francesa. Os eleitores dos outros partidos abstiveram-se porque querem-lhe dar esta legitimidade. É uma verdadeira revolução na política francesa. E eu, filho de emigrantes portugueses, faço parte dessa revolução", disse à Lusa o empresário de 49 anos com raízes em Barcelos e Póvoa do Varzim.

Dominique da Silva estava, pelas 21:50 (hora de Lisboa), a liderar a primeira volta deste domingo à frente de dez adversários, incluindo Jérôme Chartier, o segundo classificado e que é um nome conhecido por ter sido porta-voz da campanha do candidato da direita às presidenciais, François Fillon, concorrendo a um quarto mandato consecutivo de deputado.

"Uma vitória merece-se e não se pode insultar o futuro. Agora vamos fazer a campanha da segunda volta, vamos para o terreno", lançou o candidato que é vereador, desde 2008, na cidade de Moisselles, nos arredores de Paris, e que tem uma carrinha forrada com o cartaz de campanha e a sua fotografia a percorrer as várias cidades do seu círculo eleitoral.

Dominique da Silva aderiu ao movimento Em Marcha! quando foi criado, em abril de 2016, é empresário no ramo de construção modular ecológica e escreveu, em 2014, o livro "Plan d'urgence pour l'abolition du chômage" ("Plano de urgência para a abolição do desemprego").

Ludovic Mendes, de 30 anos, com raízes em Guimarães, também venceu largamente a primeira volta com 33,6% dos votos, diante do segundo classificado de Os Republicanos, Jean François, com 18%, e mostrou-se "muito contente e agradavelmente surpreendido" porque "não esperava um resultado tão forte na primeira volta".

Agora, vamos dar tudo por tudo para ganhar no próximo domingo. Há uma vaga que está em marcha e que mostra que os franceses querem uma nova política. Eu estou pronto, nada nervoso, apenas um pouco emocionado", contou à Lusa aquele que foi um dos quatro primeiros "marchadores" do movimento de Emmanuel Macron no seu distrito, tendo sido o responsável dos "Jovens com Macron" na região, após ter deixado o PS no ano passado.

Diretor regional de vendas numa empresa, Ludovic Mendes tem noção que faz parte de "uma reconfiguração política por ser jovem" e oriundo da sociedade civil, como cerca de 50% dos candidatos do movimento.

Na primeira circunscrição de Charente-Maritime, Otília Ferreira também passou à segunda volta com 26,99 % dos votos, atrás de Olivier Falorni, candidato com a etiqueta Divers Gauche [Esquerda Diversa], que obteve 36,54%, esperando conseguir vencer o duelo do próximo domingo contra um adversário que acusa de se ter colado à imagem de Macron.

"Eu sou a candidata oficial de Emmanuel Macron. Ele mostra-se compatível com Macron, mas é alguém da esquerda, esquerda que não vai votar as leis sobre a economia, do código de trabalho. Vai ser preciso trazer clareza a este combate e eu vou fazer cair as máscaras", alertou a candidata.

Médica ginecologista e obstetra, a portuguesa de 60 anos, oriunda de Lisboa, chegou a França em 1969, "a salto", com apenas 12 anos, passando a pé a fronteira para Espanha e chegando de comboio a França, por isso, não teme lutas difíceis.

Otília Ferreira foi eleita, em janeiro de 2016, conselheira regional da Nova-Aquitânia com a etiqueta do MoDem, o partido centrista que se aliou a Emmanuel Macron antes das eleições presidenciais.

"O resultado a nível nacional do movimento mostra que a escolha dos franceses é coerente com o que votaram nas presidenciais. Houve quem tenha dito que era um voto contra a Frente Nacional, mas vemos que elegeram um presidente e agora querem dar-lhe uma maioria sólida", explicou a franco-portugesa, que em 2016 publicou o livro "Enfant volé" ("Criança roubada"), que tem como pano de fundo o regime salazarista.

Paulo da Silva Moreira, de 52 anos e que chegou a França com apenas cinco anos, também liderou a primeira volta na primeira circunscrição de Yonne, no distrito da Borgonha, com 32,78%, seguido pelo deputado cessante de direita Guillaume Larrivé com 29,88%.

"Isto significa que fui ouvido e que os eleitores escolheram definitivamente mudar o modo do exercício da política. Eu e o meu suplente somos da sociedade civil e fomos escolhidos por representarmos a renovação", afirmou o médico generalista e presidente da câmara de Treigny, a cerca de 200 quilómetros a sul de Paris.