No complexo de Santa Clara onde, desde 1997, repousam os restos do comandante da Revolução e dos seus companheiros de armas, dezenas de milhares de pessoas concentraram-se desde o início da manhã para um tributo em redor do Presidente Raúl Castro, que envergava o seu uniforme de general.

Esta cidade, situada 300 quilómetros a leste da capital cubana, considera-o como um filho adotivo, desde que garantiu em dezembro de 1958 uma vitória decisiva contra as tropas do ditador Fulgencio Batista, no poder entre 1952 e 1958.

Num sinal que confirma uma mudança de época, estas cerimónias são celebradas pela primeira vez na ausência de Fidel Castro, que morreu em finais de 2016, mas excertos dos seus discursos dedicados a “Che” foram difundidos no início da homenagem.

Estas celebrações também surgem num momento onde as últimas guerrilhas de esquerda do continente americano, na Colômbia, entregam as suas armas após um acordo global com o governo (as FARC), ou negoceiam a paz (ELN, fundado em 1964 inspirando-se precisamente em “Che”).

Ernesto Guevara foi executado aos 39 anos por um militar boliviano a 9 de outubro de 1967, mas em Cuba o dia do “guerrilheiro heróico” é celebrado a 8 de outubro, o dia da sua captura numa isolada região andina da Bolívia.

Na segunda-feira vão ser organizadas as comemorações na Bolívia na presença dos filhos de “Che” e do Presidente Evo Morales, que esta semana acusou a CIA de ter “perseguido, torturado e assassinado” “Che” durante os seus 11 meses de guerrilha na selva boliviana.

O corpo do médico e guerrilheiro argentino, arremessado para uma fossa na Bolívia, foi descoberto e identificado há 20 anos, antes de regressar com grande pompa a Cuba para uma homenagem fúnebre nacional.

Desde 1997 cerca de cinco milhões de pessoas já visitaram em Santa Clara o mausoléu de “Che”, situado no subsolo e enquadrado por uma imponente estátua de bronze, com baixos-relevos e frases de “El Comandante” e ex-ministro do governo cubano, em particular a carta que dirigiu a Fidel anunciado a intenção de prosseguir a atividade guerrilheira para, como dizia, “criar um, dois, muitos Vietnames”.