Luís Filipe Castro Mendes falava aos jornalistas à margem do Fórum do Património 2017, que decorre durante todo o dia de hoje na Sociedade de Geografia, com a presença de representantes de meia centena de organizações não-governamentais.

"O Estado vai adquirir o património da companhia de teatro Cornucópia, que é importantíssimo e essencial para o património nacional”, sublinhou o ministro.

O acervo "valiosíssimo" da Cornucópia, composto, nomeadamente, por livros, cenários figurinos e arquivo, irá ainda este ano para o Museu Nacional do Teatro e da Dança, em Lisboa.

"Não se trata de uma compra", esclareceu o ministro, "mas sim de uma doação da Cornucópia do seu acervo, em troca de contrapartidas do Estado".

Questionado pela agência Lusa sobre se essas contrapartidas incluem o pagamento das indemnizações dos funcionários da Cornucópia - que teve uma atividade de 43 anos - o governante disse que "todas as despesas do encerramento vão ficar incluídas no acordo, incluindo os funcionários".

"O Estado está a ajudar a Cornucópia em todo este processo de encerramento da companhia, mas Luís Miguel Cintra [diretor artístico] está a continuar o seu trabalho de encenador", apontou ainda o ministro.

A Cornucópia fechou em dezembro do ano passado e Luís Miguel Cintra vai estrear a primeira peça depois do encerramento da histórica companhia, no dia 29 de abril, no Montijo, intitulada "Um D. João Português".

"Como não gosto, nem consigo estar parado muito tempo, foi esta a forma que encontrei de voltar ao teatro após o fecho da Cornucópia e decidi regressar com esta adaptação que fiz do 'D. João', de Molière, por esta ser uma peça que me ficou 'entalada' e que não consegui fazer ao longo de uma vida de teatro", disse à Lusa o ator e encenador, durante a primeira leitura do primeiro bloco da peça - "Na Estrada (Da Vida) -, realizada na passada semana, no polo cultural da Junta de Freguesia do Afonsoeiro, no Montijo.

Em dezembro do ano passado, Tânia Trigueiros, da produção do Teatro da Cornucópia, disse à agência Lusa que a companhia ia proceder à inventariação do seu património.

"Temos um património de guarda-roupa, adereços e cenários reunidos ao longo destas décadas que é preciso inventariar e decidir para onde vão", indicou a produtora do teatro fundado por Luís Miguel Cintra em 1973, em conjunto com Jorge Silva Melo.

Para marcar o encerramento, a companhia realizou um espetáculo de despedida do público com um Recital de Apollinaire e foi visitada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo ministro da Cultura que conversaram com a direção da companhia sobre as possibilidades de evitar o encerramento.

Mesmo com a intervenção do Presidente da República, a direção da companhia - Luís Miguel Cintra e Cristina Reis - emitiu um comunicado a anunciar que a decisão do encerramento era "incontornável" face ao quadro de financiamento insuficiente para levar a cabo os seus projetos.

Luís Miguel Cintra, figura emblemática da companhia, falou por várias vezes, nos últimos anos, nas dificuldades financeiras da Cornucópia para continuar o seu trabalho dentro da filosofia do projeto.