O Brasil está a assistir dia após dia aos detalhes que se vão conhecendo das mais de 270 horas de declarações dos antigos executivos da Odebrecht, cujo conteúdo estava em segredo de justiça e está a ser divulgado de forma parcelar e em que se descreve a corrupção "institucionalizada" no Brasil.

Um dos testemunhos mais explosivos é o do antigo presidente da empresa Marcelo Odebrecht, preso desde 2015 e condenado a 19 anos e quatro meses de prisão por desvios de dinheiro milionários que foram descobertos no âmbito da operação Lava Jato, que investiga crimes de corrupção no Brasil.

Tida por muitos investigadores e até mesmo por políticos como a maior operação de combate à corrupção da história do Brasil, a Lava Jato investigava, inicialmente, a atuação de 'doleiros' (pessoas que vendem dólares no mercado paralelo), mas, posteriormente passou a investigar também a corrupção na petrolífera estatal Petrobras.

Além dos quase 100 políticos que estão na lista de suspeitos de terem recebido subornos, incluindo oito ministros do governo, Marcelo Odebrecht disse também que o dinheiro da corrupção serviu para outros fins.

Segundo Odebrecht, o dinheiro destinado a subornos e ao financiamento ilegal de campanhas em troca de contratos de obras públicas e leis favoráveis também serviu para pagar milícias (grupo paramilitares) nas favelas do Rio de Janeiro e para pagar resgates a sequestradores.

"Uma pessoa não entra em países com guerrilha e em favelas no Rio sem pagar às milícias. E então há muito dinheiro que corre, incluindo para pagar o resgate de sequestros", explicou.

O empresário recordou que participou "juntamente com o governo brasileiro e italiano" numa negociação para "trazer o corpo de um engenheiro" da empresa que "foi sequestrado no Iraque".

"Nós demos - se não me engano - uns cinco milhões de dólares que foram pagos por fora", precisou, referindo que também pagou o resgate de sequestros na Colômbia e no Peru.

"Nesses lugares, o subcontratado quer dinheiro, não funciona com fatura. Vai para uma obra numa zona de guerrilha na Colômbia e o subcontratado quer dinheiro", relatou ainda Marcelo Odebrecht.

Também o ex-diretor Henrique Valadares revelou que sindicalistas, polícias e caciques indígenas do estado brasileiro de Rondónia, na fronteira com a Bolívia, receberam pagamentos da construtora.

Segundo o testemunho de Valadares, os sindicalistas cobraram à Odebrecht "portagens mensais" para que "não apoiassem greves, atos de violência e esse tipo de coisas" e aos polícias pagavam por "dar proteção aos trabalhadores nas obras das hidroelétricas".

No entanto, Henrique Valadares não especificou qual a razão pela qual a construtora brasileira subornava também os caciques das tribos indígenas regionais.

Os depoimentos de altos quadros da Odebrecht, a maior construtora do Brasil, que fizeram acordos com o Ministério Público Federal de delação premiada (redução da pena em troca de colaboração com a Justiça), têm deixado o país em suspenso das revelações que a cada dia são conhecidas e que indicam novos casos de corrupção que afetam diretamente políticos de renome.

A divulgação dos depoimentos, que estavam sob o segredo, surge depois de o Supremo Tribunal ter anunciado que autoriza a abertura de 76 investigações contra quase todos os políticos citados nos depoimentos, com vista a investigar crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Os pedidos foram baseados nas revelações trazidas pelos acordos de delação premiada firmados pelo Ministério Público Federal com 78 gestores e e ex-gestores do Grupo Odebrecht.

Entre os investigados estão oito ministros do Executivo do presidente Michel Temer e quase cem deputados de mais de dez partidos políticos.

Na lista de suspeitos estão 12 dos 17 governadores do país, entre os quais Tiao Viana e os cinco ex-presidentes brasileiros vivos: José Sarney (1985-1990), Fernando Collor de Mello (1990-1992), Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).

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