Assunção Cristas falava aos jornalistas durante uma visita à Feira da Golegã, no distrito de Santarém, onde regressou em dia de S. Martinho, “mais uma vez, para sinalizar a importância do mundo rural”, da identidade, das tradições, de “produtos maravilhosos” que o país possui, como é o cavalo lusitano, e que "aqui se encontram ancoras de desenvolvimento do interior do país”.

A líder centrista lamentou que “membros do Governo, como o senhor ministro da Saúde” afirmem que “o país está pobre, velho e muitas vezes abandonado e entregue a si próprio”.

“Eu tenho que ficar chocada com estas declarações e dizer ao senhor ministro que há um país que resiste, apesar de um Governo que o vê como pobre, velho e entregue a si próprio. É verdade que em muitos momentos o país esteve entregue a si próprio e as pessoas estiveram abandonadas, mas para isso é que deve existir um Governo para trabalhar empenhadamente e não para baixar os braços e fazer uma constatação desse tipo que a todos nós nos choca e choca em particular ao interior, ao mundo rural”, declarou.

Assunção Cristas deu como exemplo a situação de seca “profundíssima” que o país vive, que afeta a agricultura e o abastecimento de água às populações, em que o Governo “muito pouco ou nada” fez.

Cristas, que foi ministra da Agricultura no anterior Governo PSD/CDS-PP, afirmou que o trabalho que tem vindo a ser feito pelo seu sucessor “não está a ser feito de forma consistente”, referindo, como exemplo, “medidas que foram anunciadas para a agricultura e para o apoio à alimentação animal que servem para a parte dos incêndios, mas não servem para a parte da seca, e vice-versa, consoante as zonas do país”.

Criticou ainda que não estejam a ser alocadas verbas do Orçamento do Estado, para além dos fundos comunitários, para um problema que é de agora, mas é também para o futuro, exigindo uma atuação estruturada “para que, precisamente, não tenhamos um país abandonado e entregue a si próprio”.

Questionada sobre se tem “saudades de ser ministra”, a líder centrista afirmou que prefere “olhar para a frente”, mas disse lamentar que os fundos aplicados no setor sejam “menos que eram antigamente” e que o mundo rural e a agricultura não sejam “uma prioridade para este Governo”.

Cristas acusou o atual ministro da Agricultura, Capoulas Santos, de “anunciar a mesma medida várias vezes, mas, não só muitas vezes não é aplicada, como outras vezes mais não é do que o que já tinha sido feito em anos anteriores e sem nenhuma excecionalidade”.

Para a presidente do CDS-PP, no caso da seca, o Governo limita-se a “aplicar medidas dos fundos comunitários anunciando-as como algo muito novo”, sem ser sequer capaz de antecipar as ajudas para 15 ou 16 outubro, “como era suposto”.

“Vemos muita conversa e pouca ação e vemos um setor que, apesar de tudo, continua a resistir e que tem vontade de fazer mais”, afirmou.

Assunção Cristas lembrou que o CDS propôs, no âmbito do Orçamento do Estado para 2018 (OE2018), a criação de um fundo de emergência para as situações de seca, com uma dotação mínima de 30 milhões de euros, que possa ser automaticamente acionada.

Por outro lado, disse que o CDS-PP vai apresentar “muitas propostas”, que visam, nomeadamente, o aumento da capacidade de armazenamento de água, a “aplicação efetiva do plano nacional de uso eficiente de água” e o apoio à investigação para a introdução de espécies resilientes à escassez de água.