O estudo, “Mobilidade Social em Portugal”, da autoria das investigadoras Teresa Bago D’Uva e Marli Fernandes, procurou comparar a mobilidade social em Portugal com a da União Europeia, quer a mobilidade social entre gerações - de pais para filhos, quer a mobilidade social intrageracional - a mobilidade na condição económica de um indivíduo ao longo do tempo.

Em declarações à agência Lusa, Teresa Bago D’Uva apontou que a principal conclusão é a de que, em geral, em Portugal há menos mobilidade social do que na União Europeia. “O que também se observou foi uma tendência para uma melhoria e um aumento da mobilidade social em comparação com a União Europeia, uma aproximação”, apontou a investigadora.

Especificamente em relação à mobilidade entre pais e filhos, o estudo mostrou que é menor tendo em conta a escolaridade dos pais versus a escolaridade e rendimentos dos filhos, bem como a profissão dos pais versus profissão e rendimentos dos filhos.

“O aspeto mais assinalável da evolução da mobilidade ao longo do tempo em Portugal é o que se observa na escolaridade. Entre os nascidos depois de 1970, 41% atinge um nível superior ao do seu pai”, lê-se no estudo.

De acordo com o estudo, se forem só analisadas as pessoas nascidas depois de 1970, é possível constatar que o fosso entre Portugal e a União Europeia deve-se aos homens (33% versus 43%), já que entre as mulheres, 48% das portuguesas conseguiu um nível superior ao dos pais, “apenas dois pontos percentuais abaixo das europeias”.

Por outro lado, no que diz respeito à análise sobre um mesmo indivíduo mudar de condição socioeconómica ao longo do tempo (mobilidade intrageracional), as conclusões do estudo apontam que “os rendimentos das famílias portuguesas evoluíram de forma muito variada” dentro do período estudado, que foi de 1993 a 2000, e de 2003 a 2013.

“Os anos mais recentes que temos de facto indicam uma grande aproximação aos indicadores da União Europeia”, destacou Teresa Bago D’Uva, apontando que em causa estão anos da crise, com “circunstâncias muito particulares em Portugal”, que torna “impossível dizer se essa aproximação vai continuar”.

A avaliação da mobilidade intrageracional nos salários individuais revelou que o crescimento salarial, em média, tem estado positivo, apesar de registar uma tendência decrescente, dando como exemplo que os salários aumentaram cerca de 14% entre 1986 e 1989, mas apenas 9% de 2006 para 2009. Consequentemente, “a tendência foi sobretudo para o declínio na mobilidade”.

O aumento da escolaridade “estará também por detrás da descida considerável da posição relativa dos trabalhadores com ensino secundário”, já que a proporção de trabalhadores com ensino superior passou de 8% em 1986 para 30% em 2006, sendo estes os que ocupam os lugares mais altos da distribuição salarial.

Apesar de salientar que o estudo não serviu para analisar o impacto de políticas na mobilidade social, as conclusões vão no sentido de defender que a melhoria da igualdade de oportunidades na educação poderá ter um papel importante na mobilidade social entre gerações.

“É importante que a qualidade [do ensino] não varie muito conforme o estatuto socioeconómico dos pais e isso é muito importante para a igualdade de oportunidades”, frisou Teresa Bago D’Uva.

O estudo defende também a pertinência de políticas de combate à pobreza e exclusão social “que poderiam melhorar a situação económica dos mais desfavorecidos”, apontando que seria de considerar o impacto de determinadas políticas na mobilidade social, desde a orientação profissional nas escolas, combate ao desemprego de longa duração ou promoção do desenvolvimento profissional ao longo da carreira.

O estudo vai ser apresentado hoje, em Lisboa, no decorrer da conferência “De Pais para Filhos - Mobilidade social e justiça entre gerações”, da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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