"Em vez de colocar pressão nos empresários do conselho de Indústria e do fórum de Estratégia e Política, termino com ambos. Obrigado a todos", pode ler-se na breve mensagem do presidente norte-americano deixada na rede social Twitter.

A decisão surge depois de vários membros destes conselhos consultivos terem anunciado a sua saída, pretendendo demarcar-se da reação do presidente dos Estados Unidos da América (EUA) à violenta manifestação de supremacistas brancos em Charlottesville, na Virginia.

O êxodo de executivos começou esta quarta-feira (16/08), quando Stephen A. Schwarzman, líder da Blackstone Group e próximo de Trump, convocou uma conferência com os membros do Fórum de Estratégia e Política do presidente norte-americano.

Nessa videoconferência, conta o jornal 'New York Times', os executivos de algumas das mais importantes empresas norte-americanas debateram a resposta a dar à polémica que envolve a reação de Donald Trump à violência deste fim de semana. Desse encontro emanou a decisão de abandonar o grupo.

Os principais executivos de empresas como Merck, Intel e Under Armour estavam entre os últimos a renunciar a esses conselhos, após Trump culpar os dois lados pelos incidentes do domingo passado que deixaram uma mulher morta, num protesto antirracista contra a manifestação de supremacistas brancos na Virgínia.

Numa acesa discussão com os jornalistas, esta terça-feira (15/08), Trump disse que os confrontos do passado sábado são "uma coisa horrível de se ver", mas sublinha que ambos os lados contribuíram para a violência. "Eu acho que há culpa dos dois lados", disse o presidente norte-americano.

A dissolução destes grupos, explica o jornal norte-americano 'Washington Post' é um marco significativo na estratégia de Donald Trump, cuja campanha assentou na sua experiência empresarial para reavivar os Estados Unidos.

O CEO da Merck, Ken Frazier, um dos poucos afro-americanos entre os empresários que aconselham o presidente norte-americano, foi o primeiro a abandonar o conselho de Indústria, logo na segunda-feira. Donald Trump criticou a saída, acusando a farmacêutica de inflacionar os preços de medicamentos.

Nessa noite, os executivos da Under Armour e da Intel abandonaram também esse grupo.

Já ontem, outros três líderes saíram, enquanto o CEO da cadeia de supermercados Walmart divulgava uma carta aberta aos empregados em que criticava explicitamente a administração Trump.

Também o presidente do maior sindicato dos EUA abandonou esta terça o conselho de Indústria. Para Richard Trumka, a resposta de Trump mostra que ele tolera o "preconceito e o terrorismo doméstico".

"Os comentários de hoje do presidente Trump refutam as declarações forçadas de ontem sobre a KKK [Ku Klux Klan] e os neonazis. Nós precisamos de renunciar em nome da classe trabalhadora americana, que rejeita todas as noções de legitimidade destes grupos preconceituosos", acrescentou Trumka, numa alusão às declarações feitas na véspera pelo presidente norte-americano, em que Trump criticou a violência racista.

Alex Gorsky, da Johnson & Johnson, que inicialmente tinha dito que não iria abandonar o conselho para ter voz na discussão, veio agora dizer que as últimas declarações de Trump, esta terça-feira, sobre a manifestação da extrema-direita em Charlottesville, eram insustentáveis: "as declarações mais recentes do presidente, em que põe no mesmo nível aqueles que são motivados pelo ódio baseado na raça e aqueles que fazem frente ao ódio é inaceitável e mudou a nossa decisão de participar no Conselho Consultivo de Indústria da Casa Branca", disse Gorsky, citado pelo 'Washington Post'.

Estes grupos, explica o 'New York Times' são sobretudo cerimoniais. Têm o objetivo de manter uma linha aberta entre a comunidade empresarial e a Casa a Branca. Todavia, na administração Trump assumiam contornos políticos, tendo os seus membros sido chamados para defender as polémicas opiniões e decisões do presidente norte-americano.

Para além disso, os conselhos "não têm sido particularmente eficazes", escreve o jornal. Não havia quaisquer reuniões há algum tempo, nem estavam agendados outros encontros.