Segundo dados de um estudo de âmbito nacional hoje apresentados em Lisboa, dois terços dos médicos em Portugal admitem estar em elevado estado de exaustão emocional, um dos indicadores relevantes associados ao stress profissional crónico designado como ‘burnout’.

Nídia Zózimo, coordenadora do estudo na Ordem dos Médicos, lembra que as condições de trabalho têm vindo a degradar-se, enquanto o esforço exigido aos profissionais continua em alta: “ou se faz algo para interromper este processo ou tornar-se-á um problema de saúde pública”.

A mesma ideia é partilhada pelo bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, para quem “o sistema está a criar todas as condições para que haja risco de aumentarem erros médicos”.

De acordo com o estudo elaborado pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, a perceção da falta de recursos (humanos ou de equipamentos) na organização e as exigências ao nível da carga de trabalho são os fatores que mais contribuem para a exaustão dos médicos.

Segundo os investigadores que hoje apresentaram os dados do estudo, a análise não permite perceber a percentagem de médicos em Portugal que estão em ‘burnout’, mas analisa a percentagem de clínicos em cada um dos indicadores que contribuem para o ‘burnout’.

Além da exaustão emocional que é elevada em 66% dos médicos, 39% de todos os médicos indicaram níveis elevados de distanciamento face ao doente (despersonalização) e 30% mostraram altos níveis de diminuição da realização profissional.

São os médicos mais jovens que apresentam os níveis mais elevados nos três indicadores de ‘burnout’ avaliados no estudo: exaustão emocional, distanciamento face ao doente e diminuição da realização profissional.

Os médicos que trabalham no setor público foram os que apresentaram maior risco de desenvolver os indicadores de 'burnout'.

Quanto às especialidades, hematologia clínica, radioterapia, oncologia médica, doenças infeciosas e estomatologia são as aquelas em que os médicos revelam maior exaustão emocional.

Inicialmente, dados parcelares revelados hoje de manhã apontavam para os profissionais das especialidades de neurocirurgia e de medicina legal como os mais afetados pela exaustão, uma informação entretanto corrigida pelos responsáveis do estudo.

A hematologia clínica, além de ser a especialidade com valores elevados de exaustão emocional, surge igualmente como uma das que revelam mais reduzidos valores de envolvimento com o trabalho e de bem-estar.

Apesar dos elevados valores nos três indicadores de ‘burnout’, os autores do estudo dizem que a maioria dos médicos se mostra altamente envolvida com o seu trabalho e se mantém bastante empenhada na sua profissão.

O estudo, uma iniciativa conjunta da Ordem dos Médicos e do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, foi feito através de inquéritos a mais de nove mil médicos portugueses, dos perto de 50 mil convidados a responder.

O bastonário da Ordem dos Médicos confessa ter ficado surpreendido com a dimensão do problema: “Não estava à espera que o problema fosse tão grave, o que exige que se olhe para esta questão com muita atenção”.