O publicitário Bobby Coimbra, que chegou há 28 anos há Venezuela, diz que nos últimos meses a sua rotina sofreu o impacto das frequentes manifestações em Caracas, que passam bem perto do prédio em que trabalha, e pelo encerramento de operações de companhias aéreas.

Coimbra, que é presidente de uma companhia britânica que atua em vários países da América Latina, disse que tem uma máscara de gás, pois em dias de confronto muito intenso a fumaça e o cheiro de gás lacrimogéneo podem ser sentidos na agência de publicidade.

O publicitário contou ainda que a dificuldade em encontrar medicamentos atinge mesmo os que têm menos dificuldades económicas.

Há mais de 20 anos na Venezuela, uma outra brasileira de 38 anos, considerou (sob anonimato) que o país vive uma ditadura com o Governo de Nicolás Maduro.

A moradora de Valencia, no norte da Venezuela, diz que apaga as mensagens do telemóvel para evitar complicações com os serviços de segurança.

A brasileira contou que trabalha com venda de produtos importados e negou-se a dar detalhes sobre o negócio da família, o que permitiria, segundo ela, ser identificada.

“A situação, que já não era boa, (desde a morte do Presidente Hugo Chávez) tem piorado bastante. Aqui não havia mendicância. Muitas pessoas procuram de comer no lixo. Tem muitos indigentes. Tem pessoas a passar fome mesmo”, sublinhou.

“Quem tem dinheiro, como a minha família, não tem problema porque pode pagar mais, mas as pessoas que não têm condições, que são a maioria, estão a passar muitas dificuldades”, referiu.

A solução para a população com baixos rendimentos é recorrer aos produtos com preço reduzido. Para ter acesso a esses produtos, além de enfrentar as longas filas, têm de respeitar um cronograma de vendas estabelecido de acordo com o final do número do documento de identidade.

A brasileira tem um filho universitário, que já participou nos protestos contra o Governo do Presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

“Hoje em dia, eu não deixo mais o meu filho ir, porque estão a matar demais”, afirmou ainda.

Outra brasileira (também sob anonimato), que mora há dois anos em Caracas, num bairro afastado do centro, disse que o fato de poder pagar um preço mais elevado ajuda a ter acesso a uma variedade maior de produtos.

“Aqui você tem que comprar para meses, para não te faltar aquilo que você precisa, o que é o essencial”, referiu ainda.

“Nós temos medo de tudo, não saímos para nada, porque temos medo de sequestro. À noite as ruas de Caracas são muito escuras, então evitamos ao máximo”, lamentou, entretanto.

Desde abril, a contestação contra o Governo do Presidente Nicolás Maduro aumentou de intensidade, tendo piorado com a eleição de uma Assembleia Constituinte, rejeitada pela oposição.

Os confrontos nas manifestações já causaram mais de 120 mortos.