“A reivindicação e descontentamento dos catalães são justificados pelo desequilíbrio entre o dinheiro que enviam e o que recebem dos cofres do Estado central”, confidencia à agência Lusa Rui Fernandes, sócio-gerente de uma empresa de distribuição de vinhos e presidente executivo de uma ‘startup’ (empresa emergente) de mobilidade sustentada, em Barcelona.

O empresário português compreende a “indignação dos catalães, que muitas vezes são tratados por Madrid como se fossem criminosos”, mas avisa contra “a manipulação da realidade feita pelos dois lados”.

A comunidade autónoma da Catalunha tem 7,5 milhões de habitantes e é a mais rica de Espanha, produzindo um quinto da riqueza anual. O PIB anual é superior ao de Portugal ou da Grécia. Tem uma língua própria, que foi reprimida durante a ditadura fascista de 1939 a 1975, e uma cultura distinta.

“Numa situação de incerteza grande ou de separação de Espanha, muitas empresas vão abandonar a região”, com um impacto imprevisível na economia, sustenta Rui Fernandes, acrescentando que num cenário desses irá deslocalizar para Madrid a sede das suas empresas, “assim como muitas outras companhias”.

Os catalães são chamados a votar este domingo para decidirem se querem ser independentes de Espanha num referendo que os separatistas insistem em realizar apesar dos riscos de violência entre a polícia e os independentistas.

O governo regional catalão (Generalitat) insiste em desobedecer às decisões do Tribunal Constitucional espanhol, que considerou ilegal o referendo, e recusou todas as pressões feitas para desconvocar a consulta de 01 de outubro.

“Pessoalmente, este processo, e seja qual for o resultado, não me irá afetar minimamente”, afirma Carlos Duarte, dono do Restaurante Oporto, em Barcelona, que, no entanto, considera, no caso de ir para a frente, que “não será benéfico, de forma alguma, para a Catalunha ou para Espanha”.

O empresário receia que, no caso de a Catalunha se tornar independente, possa significar “o início de uma bola de neve com implicações noutras regiões de Espanha [País Basco] e da Europa [Escócia e Córsega]”.

“Devia haver mais diálogo e mais democracia”, sustenta Carlos Duarte, para impedir “dinâmicas irreversíveis” como aconteceu no caso da saída do Reino Unido da União Europeia, onde “os britânicos já estão arrependidos da decisão tomada em referendo”.

Apenas os partidários do “sim” à independência fizeram campanha eleitoral, que terminou na sexta-feira com um grande comício em Barcelona.

Os partidários do “não” boicotaram o ato eleitoral para não darem credibilidade à consulta marcada unilateralmente pela Generalitat (Governo catalão), sem o consentimento do Governo central, em Madrid.

Tudo isto apesar de uma clara maioria de cerca de 70% de catalães defenderam que deve ser realizado um referendo de autodeterminação, mas dentro do quadro legal.

Os estudos de opinião indicam que os independentistas não têm a maioria, mas ganhariam sempre num referendo em que iriam votar em massa.

“A comunidade portuguesa está pouco envolvida” no processo em curso e os portugueses “querem que isto passe depressa para voltar a normalidade”, disse à Lusa o cônsul de Portugal na Catalunha, Paulo Telles da Gama.

Há cerca de 13.000 portugueses a viver na Catalunha.

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.