“Perdemos tudo, neste momento não temos nada. Nem uma folha de papel, nem uma cadeira ficou. Agora, temos de recomeçar”, disse à agência Lusa Pedro Pinhão, fundador e gerente da Toscca, uma empresa de construções em madeira e mobiliário de jardim que laborava desde 1996 na zona industrial de Oliveira de Frades.

No domingo à noite, as chamas chegaram muito rápido à empresa e, apesar de os colaboradores terem acorrido cedo ao local, não conseguiram salvar as instalações.

“Percebemos cedo que íamos ter aqui problemas, porque o vento apontava nesta direção. Tínhamos pessoas, água, uma motobomba e fomos tentando proteger. Mas a verdade é que o fogo chegou violentamente e mesmo os equipamentos que colocámos lá fora acabaram por arder”, relatou.

Luís Alves, um dos 47 trabalhadores da Toscca, contou que, às 20:30 de domingo, recebeu uma chamada para ir ajudar a salvar a empresa.

“Ainda tentámos, mas às 22:30/23:00 já não havia nada a fazer. Só podíamos fugir e depressa”, recordou, acrescentando que as chamas chegaram mais rápido do que ele a sua casa, situada a cerca de cinco quilómetros.

Este incêndio veio assim quebrar uma fase de crescimento da empresa, que tinha atingido sete milhões de euros de volume de negócio em setembro.

“O ano estava a correr muitíssimo bem. Tínhamos 47 postos de trabalho diretos e mais outros tantos indiretos, porque fazíamos montagens no exterior”, explicou Pedro Pinhão.

Sem se deixar desanimar pela área queimada em seu redor, o gerente da Toscca deixou uma certeza: “Daqui a um ano vamos estar a trabalhar. Vamos recomeçar aprendendo com os erros, provavelmente afastando-nos da floresta, procurando uma zona mais segura e ordenando a empresa de outra forma”.

Por considerar os trabalhadores o principal ativo da empresa, Pedro Pinhão quer mantê-los a todos, esperando conseguir arranjar trabalho provisoriamente para alguns e uma solução negociada com a Segurança Social para os restantes.

“É uma mão-de-obra valiosa, gente de muita tenacidade e capacidade de trabalho e é esta a razão que nos faz ficar aqui, eventualmente nesta zona industrial, mas noutro local”, frisou.

Teresa Bernardes e o pai têm a mesma vontade de reerguer a ASP – Indústria de Plásticos, Lda, que há mais de 20 anos laborava na zona industrial, mas as ideias de como o conseguirão fazer ainda não estão nítidas.

“Não sabemos o que fazer, anda estamos na fase de choque”, disse à Lusa Teresa Bernandes, gerente da empresa.

A responsável admitiu estar muito preocupada com o futuro dos 21 trabalhadores, que tinham todos “uma relação quase familiar”.

“Não temos indicações da parte de ninguém do que fazer, onde fazer, como fazer… Palavras de conforto e apoio moral não nos faltam, mas falta o resto”, afirmou, emocionada.

Na Revi-96, Revestimentos Lda, dois dos seus quase 20 trabalhadores recolhiam alguns valores que sobreviveram às chamas.

Alexandre Martins, que trabalha há um ano na Revi-96, disse que “o chefe está com vontade de avançar outra vez”, pondo novamente a funcionar a empresa.

Abordado pela Lusa, o patrão de Alexandre Martins tinha no rosto o desânimo que a sua resposta confirmou: “Deixem-me com Deus”.

Em declarações à Lusa na terça-feira, Armando Bento, da Associação Empresarial de Lafões, disse que mais de 500 postos de trabalho terão ficado em risco devido ao incêndio que destruiu totalmente ou danificou várias empresas na zona industrial e que, desses, “300 não serão recuperáveis, a não ser que haja uma ajuda financeira do Governo central e das autoridades locais”.

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