Num estudo sobre turismo acessível da Universidade do Porto, a que a Lusa hoje teve acesso, é revelado que entre os 20 principais locais turísticos analisados, Torre dos Clérigos, Museu de Serralves, Casa da Música e Casa do Infante recebem nota “mínima” informativa, sendo “inexistente” nos restantes.

Em causa estão as informações vertidas nos ‘websites’ oficiais dos locais, bem como nas páginas Balcão Virtual, Visit Porto, Porto. e SIA- Sistema de Itinerários Acessíveis, estes três últimos da responsabilidade da Câmara do Porto.

A informação nestes ‘sites’ sobre acessibilidade é “inexistente” nos casos da Ponte Luiz I, Ribeira, Parque da Cidade, Estádio do Dragão, Museu do Futebol Clube do Porto, Palácio da Bolsa, Sé Catedral do Porto, Funicular dos Guindais, Jardins do Palácio de Cristal, Livraria Lello, Igreja São Francisco, Rua Santa Catarina, Mercado Bom Sucesso, Praça da Liberdade, Capela das Almas, Igreja do Carmo.

Os locais analisados fazem parte de uma lista de janeiro de 2017 das “Melhores Atividades” no Porto, referidas pelo site de viagens ‘Tripadvisor’, explicou Céline Castro, autora do estudo.

O ‘site’ do Palácio da Bolsa é um exemplo de falhas ao nível da comunicação da capacidade que tem para receber pessoas deficientes, pois tem acompanhamento dos turistas com deficiência e entradas especiais, mas essas características amigas do Turismo Acessível não estão indicadas na sua página, que também não está adaptado a tecnologias de assistência, acabando por ser “uma barreira para o turista que ainda não conhece a cidade do Porto”.

No Estádio do Dragão e no Museu do FC Porto há a disponibilidade para acompanhar a pessoa com dificuldades motoras ou visuais, mas, mais uma vez, o ‘website’ oficial “não tem qualquer tipo de informação sobre isso”, referiu Celine Castro.

O estudo indica ainda que a cidade do Porto, apesar de “apresentar um produto turístico adequado ao mercado acessível”, não projeta essa imagem no universo ‘online’, prejudicando “a captação” de turistas com limitação.

Jaime Oliveira, secretário da Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) no Porto, também reconhece que há um “esforço muito grande na cidade para ter as coisas muito mais acessíveis” a pessoas com algum tipo de limitação, mas alerta que a “informação sobre acessibilidades não passa”, havendo estrangeiros a querer visitar o Porto e a decidirem viajar para outros destinos, porque os ‘sites’ estrangeiros têm mais informação sobre acessibilidade.

“Basta cumprir as normas que já existem, não quero mais”, salienta Jaime Oliveira, reiterando que bastava que os sítios da Internet cumprissem as normas da comunidade europeia.

Quando se começa a construir um ‘site’, “é muito simples” trabalhar nele, cumprindo as normas europeias sobre acessibilidade, acrescenta Jaime Oliveira.

As imagens nos ‘sites’, acrescenta, “não têm audiodescrição” e o leitor de ecrã não passa a informação para os cegos.

A atual diretiva do Parlamento Europeu relativa à acessibilidade dos sítios web e das aplicações móveis de organismos do setor público tem de ser transposta para a ordem jurídica portuguesa “até 23 de setembro de 2018”.

A diretiva refere que o termo “acessibilidade” deverá ser entendido como os princípios e técnicas a observar na conceção, construção, manutenção e atualização de sítios web e aplicações móveis, de forma a tornar os seus conteúdos mais acessíveis aos utilizadores, em especial a pessoas com deficiência, lê-se na página da União Europeia.

O turista com deficiência gosta de viajar acompanhado, o que faz com que a “percentagem de potencial mercado aumente”, acrescenta a autora do estudo, referindo que se estão a perder oportunidades junto de um segmento turístico que "representa 20% da população mundial".

Os resultados do estudo científico basearam-se na observação das infraestruturas das atrações turísticas do Porto e dos seus ‘websites’ institucionais, tendo como itens de avaliação as diretrizes internacionais de acessibilidade no que respeita ao Design Universal e de Acessibilidade Online.

A Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) disse que a matéria da acessibilidade é uma "prioridade na gestão/estratégia para o território" e que, por esse facto, está "a desenvolver um plano estratégico de turismo acessível que passa por muitas áreas, incluído a questão da web"

"Com o trabalho agora em desenvolvimento, iremos promover sessões de divulgação/sensibilização para os empresários e entidades públicas do setor do Turismo que atuam no Norte, tendo por intenção tornar a região um destino acessível para todos", declarou Melchior Moreira, presidente da TPNP.