"A ausência de regulamentação efetiva no Japão contra o comércio do marfim permite que produtos derivados do marfim sejam sistematicamente adquiridos por visitantes e intermediários chineses", indicou um relatório da Traffic, ONG de conservação da vida selvagem, divulgado no final de dezembro.

Entre 2011 e 2016, as alfândegas chinesas apreenderam 2,42 toneladas de marfim importado ilegalmente do Japão, segundo dados citados pela imprensa chinesa.

"Se esta situação continuar, irá minar o cumprimento da nova interdição aprovada pela China", apontou a TRAFFIC.

O relatório, intitulado "Ivory Towers: An Assessment of Japan's Ivory Trade and Domestic Market", tem como base entrevistas com vendedores de marfim nas cidades japonesas de Tóquio, Osaca e Quioto, realizadas entre maio e setembro de 2017.

Vários entrevistados afirmaram que os chineses são os principais clientes e que muitos destes são intermediários, à procura de produtos de marfim para outros clientes na China.

Um dos vendedores citados no relatório afirmou que o marfim pode ser facilmente contrabandeado para a China continental através da fronteira em Hong Kong ou do porto de Xangai, onde o controlo aduaneiro é alegadamente menos restrito.

Uma pesquisa por produtos de marfim na página de compras da versão japonesa do portal Yahoo gera 58.300 resultados, a maioria selos de marfim ou símbolos budistas.

Produtos de marfim são vistos na China como símbolos de estatuto, enquanto esculturas naquele material são parte importante da cultura e arte tradicionais da China Antiga.

A China, o maior consumidor mundial de marfim, baniu desde o início do ano todo o comércio e transformação de marfim.

A proibição, que havia já sido anunciada em 2016, abrange também o comércio eletrónico e as recordações adquiridas no estrangeiro.

Antes da entrada em vigor da nova lei, o Governo chinês lançou várias campanhas de sensibilização, e o preço de pressas de elefante caiu 80% no país.

A agência oficial chinesa Xinhua indicou que, ao longo de 2017, fecharam 67 lojas e oficinas envolvidas no comércio de marfim.

A decisão pode ter impacto significativo em Angola e Moçambique, que nos últimos anos se tornaram destinos de referência na caça ao elefante.

Em Moçambique, entre 2011 e 2015, a caça furtiva custou à reserva do Niassa (norte) sete mil elefantes. A caça furtiva ameaça de extinção o elefante e o rinoceronte em Moçambique, de onde são traficados pontas de marfim e cornos de rinocerontes para a Ásia.

Em Angola, as autoridades queimaram cerca de 1,5 toneladas de marfim, bruto e trabalhado, em junho passado. A quantidade, apreendida em diferentes pontos do país enre 2016 e 2017, podia valer no "mercado negro" perto de um milhão de euros.

Existem atualmente cerca de 450.000 elefantes no continente africano, calculando-se em mais de 35.000 os que são mortos anualmente.