Em conferência de imprensa, depois de ter anunciado que vai assumir o cargo de líder do Grupo Parlamentar do PSD para o qual foi eleito hoje com 39,7% dos votos, Negrão considerou que os votos em branco “podem ser entendidos como um benefício da dúvida”, apontando essa como a primeira razão para a sua decisão.

A segunda razão para assumir o cargo, explicou, é que “ninguém teve a coragem” de assumir uma candidatura contra si.

Aos jornalistas, Fernando Negrão assumiu que nem todas as pessoas da sua lista terão votado na direção (a lista continha 35 nomes, mas há deputados que não a integravam, como Feliciano Barreiras Duarte ou António Topa, e que muito provavelmente terão votado a favor).

“Há um problema, não de natureza política, mas de natureza ética, há um problema neste grupo parlamentar, porque houve pessoas – eventualmente duas, podem ser mais – que aceitaram integrar a lista e depois terão votado em branco”, afirmou.

Negrão disse já ter falado com o presidente do PSD, Rui Rio, a quem comunicou a decisão e lhe transmitiu o seu apoio.

“Comuniquei ao dr. Rui Rio os resultados, expliquei-lhe a leitura que fazia dos mesmos e disse que, na minha opinião, eu assumiria a direção do grupo parlamentar. Ele disse: ‘Se entende que deve assumir, tem o meu apoio’”, relatou.

Negrão defendeu que, na sua interpretação do regulamento interno da bancada, não é necessário para ser eleito ter mais um voto do que a metade dos votos expressos, o que não é consensual entre os deputados do PSD.

“Se a eleição for impugnada, é impugnada, mas não espero que aconteça, se não houve ninguém com coragem de concorrer contra mim, presumo que não se tomem atitudes dessa natureza”, disse.

Negrão salientou que, se somar os 35 votos favoráveis com os 32 em branco, “faz dois terços dos votos” e atribuiu a votação – a mais baixa pelo menos desde 2002 na bancada do PSD – e considerou “errada” a leitura de que terá a maioria da bancada contra si.

“Os momentos de transformação nos partidos são particularmente difíceis e esses votos são reflexos dessas dificuldades”, justificou.

Apesar de ter consciência de que nem todos os elementos da sua lista terão votado em si, Negrão disse que não a irá alterar.

“Vou trabalhar e assumir a responsabilidade com as pessoas que aceitaram”, afirmou.

Questionado se este resultado o enfraquece, Negrão respondeu negativamente e, sobre os efeitos da votação na nova direção do partido, remeteu essas respostas para o presidente Rui Rio.

Por outro lado, Negrão disse que esta votação “não andou muito longe” do que era a sua estimativa, “entre 35 e 40 votos” dos 89 parlamentares do PSD, admitindo que poderia ser melhor se tivesse decorrido “mais longe” da realização do congresso do partido, no passado fim de semana.

“Há sempre pessoas que ficam descontentes com as mudanças e as transformações (…) Eu aceitei ser a cara da mudança das políticas do PSD e, portanto, a reação está aqui”, disse, afirmando que na próxima semana irá reunir a bancada do PSD

Questionado se vai cumprir o mandato até ao fim, respondeu: “O futuro a Deus pertence”.

No final do plenário, os dois anteriores líderes parlamentares, Hugo Soares e Luís Montenegro, e a deputada e ex-ministra da Justiça Paula Teixeira da Cruz – que sempre defendeu a continuidade do presidente da bancada cessante – saíram juntos e recusaram fazer declarações aos jornalistas.

Questionado pela Lusa, também o deputado e novo secretário-geral do PSD, Feliciano Barreiras Duarte, recusou comentar o assunto.

Na eleição realizada hoje, na Assembleia da República, Negrão conseguiu 35 votos favoráveis, 32 brancos e 21 nulos, tendo votado 88 dos 89 parlamentares sociais-democratas.

Apenas o deputado Pedro Pinto não votou, tal como já tinha admitido na reunião do grupo em que foram anunciadas eleições antecipadas.

Fernando Negrão foi o único candidato à sucessão de Hugo Soares, que convocou eleições antecipadas para a liderança parlamentar depois de o novo presidente do PSD, Rui Rio, lhe ter transmitido a vontade de trabalhar com outra direção de bancada.

Hugo Soares tinha sido eleito líder parlamentar em 19 de julho do ano passado com 85,4% de votos, correspondentes a 76 votos favoráveis, 12 votos brancos e um nulo.