“Em vez de me insultar e de torcer o braço aos meus amigos, porque não faz um gesto, não tenta falar aos insubmissos (membros do movimento de esquerda A França Insubmissa), por exemplo afastando a sua ideia de rever a lei do trabalho? Ele está a correr riscos ao fazer o que fez”, disse Mélenchon, numa entrevista à estação televisiva TF1.

Criticado em França pela sua posição ambígua em relação à segunda volta do escrutínio presidencial, que se realiza a 7 de maio, Mélenchon garantiu que está “pronto” para governar a França se vencer as legislativas francesas de 11 e 18 de junho e frisou que não se deve votar em Le Pen, embora não tenha apelado expressamente para o voto em Macron.

“Com sete milhões de votos, não posso ser o homem de antes”, asseverou o líder do movimento A França Insubmissa, recordando que, na primeira volta das presidenciais, realizada a 23 de abril, Macron (com 8,6 milhões de sufrágios, equivalentes a 24,01%) e Le Pen (7,6 milhões, que correspondem a 21,3%) apenas somaram 45% dos votos.

“O mais determinante para o país são as eleições legislativas e vou trabalhar para conseguir uma maioria parlamentar”, declarou.

Em França, o Presidente não tem poder legislativo, que é uma prerrogativa da Assembleia Nacional.

“Na segunda volta, vamos livrar-nos de Le Pen e, num mês, das políticas de Macron, porque este homem é incapaz de dirigir o país”, acrescentou.

Mélenchon disse que Marine Le Pen é tão radical como o seu pai, Jean-Marie Le Pen – condenado por racismo e “negacionismo” histórico – e desmentiu os que o acusam de indefinição numa altura em que é preciso travar a extrema-direita.

“A minha posição não é a de ‘nem-nem’ (nem um, nem outro). A todos os que me ouvem, digo-lhes que sobretudo não votem na Frente Nacional (FN)”, o partido de Le Pen, sustentou.

Esclareceu também porque é que a sua posição em relação à necessidade de deter a extrema-direita nestas eleições difere tanto da que assumiu em 2002, quando, ainda como militante socialista, instou ao voto no conservador Jacques Chirac, contra Jean-Marie Le Pen, “com molas no nariz”.

“Em 2002, pensei que era um acidente. Mas depois, em todas as eleições, obrigam-nos a votar contrariados. Todos se esqueceram de que, nas regionais de 2015 (ganhas pela FN), pedi uma frente republicana [contra a extrema-direita], o que corresponde a dar o título de bombeiro aos pirómanos”, comentou, referindo-se às políticas dos partidos tradicionais.