“Aquilo que nós pretendemos quanto ao eucalipto — e temos sido bastante criticados por isso — é travar a expansão da área do eucalipto, mas em menos área produzir mais matéria-prima para uma indústria que representa dois mil milhões de euros de exportações”, afirmou o governante Luís Capoulas Santos, em declarações aos jornalistas em Góis, concelho fustigado pelos incêndios que deflagraram no sábado.

O governante respondia assim ao pedido do Bloco de Esquerda (BE) de suspensão do concurso de rearborização de eucaliptos.

De acordo com o ministro da Agricultura, os apoios dados à floresta, sem discriminar espécies florestais, visam “ordenar a floresta portuguesa”, geri-la profissionalmente e garantir que seja certificada “para que se reduza o risco de incêndios, para que aumente a sua rentabilidade económica, para que, com a diminuição do risco, haja capacidade de atrair mais investimentos para a floresta”.

“Aquilo que está a arder é floresta desordenada”, advogou o governante, assegurando que todos os apoios à florestação obrigam a que os promotores respeitem “ordenamento florestal, gestão florestal, certificação florestal e faixas entre as plantações”.

Capoulas Santos assegurou ainda que a política florestal do Governo é “uma política coerente” e “não está dependente da pressão mediática”.

O BE pediu hoje a suspensão de um concurso de nove milhões de euros, em fundos comunitários, para rearborização de eucaliptos, defendendo que os apoios à reflorestação devem incidir sobre "espécies de maior resiliência ao fogo".

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"O Governo tinha anunciado já a abertura de uma linha de financiamento para o apoio à plantação de eucaliptos", disse no parlamento o deputado do BE Pedro Soares, que definiu esta situação como "incompreensível" e "contraditória" com a atividade parlamentar.

E realçou: "É contraditório que haja diplomas a serem analisados na comissão de Agricultura que pretendem o controlo dos eucaliptos e, ao mesmo tempo, o PDR2020 [programa comunitário] que financia em exclusivo, no valor de nove milhões de euros, a plantação de eucaliptos, nomeadamente em áreas de grande risco de incêndio florestal".

Dois grandes incêndios deflagraram no sábado na região Centro, provocando 64 mortos e mais de 200 feridos, tendo obrigado à mobilização de mais de dois milhares de operacionais.

Estes incêndios, que deflagraram nos concelhos de Pedrógão Grande e Góis, consumiram um total de cerca de 50 mil hectares de floresta [o equivalente a 50 mil campos de futebol] e obrigaram à evacuação de dezenas de aldeias.

O fogo que deflagrou em Escalos Fundeiros, em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, alastrou a Figueiró dos Vinhos e a Castanheira de Pera, fazendo 64 mortos e mais de 200 feridos.

As chamas chegaram ainda aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra, mas o fogo foi dado como dominado na quarta-feira à tarde.

O incêndio que teve início no concelho de Góis, no distrito de Coimbra, atingiu também Arganil e Pampilhosa da Serra, sem fazer vítimas mortais. Ficou dominado na manhã de quinta-feira.

[Notícia atualizada às 20:54. Corrige no título e no primeiro parágrafo a referência à «rearborização de eucaliptos». Deve ler-se «ordenamento de eucaliptos».]