De uma intensidade pouco habitual, estes bombardeamentos aéreos acontecem numa altura em que surgem novas suspeitas sobre o uso de armas químicas (e de cloro) por parte do governo de Bashar al-Assad.

Só na terça-feira, os bombardeios na região mataram 80 civis, de acordo com os dados do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma Organização Não-Governamental.

"É o dia mais sangrento dos últimos nove meses e um dos mais letais em vários anos na Ghuta Oriental", revelou o diretor do Observatório, Rami Abdel Rahman. Posteriormente, acrescentou que entre as vítimas mortais estão 19 crianças e 20 mulheres, havendo ainda mais 200 feridos.

Em Duma, a maior cidade de Ghuta, os hospitais estão lotados com o volume de feridos. "Por favor, dissolvam todas as concentrações e libertem as ruas", anunciavam os altifalantes das mesquitas da cidade, segundo a agência AFP.

Linha vermelha?

A região, um enclave nos subúrbios de Damasco, é controlada pelos rebeldes da oposição desde 2013 e conta com uma população de 400 mil pessoas.

O cessar-fogo é letra morta. Na segunda-feira, dia 5 de fevereiro, os ataques aéreos e os disparos de artilharia mataram 31 civis.

Desde 2011, que a guerra na Síria já fez mais de 340.000 mortos. E, agora, surgem nova suspeita do uso de armas químicas.

Esta quarta-feira, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) afirmou que está a investigar as informações sobre este tipo de ataque na Síria por parte de Damasco.

"As alegações recentes referentes ao uso de armas químicas na Síria continuam a ser uma fonte grave de preocupação", sendo que a OPAQ "estuda todas as alegações que sejam críveis", informou a organização internacional, com sede em Haia, na Holanda.

O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, disse que há "várias indicações" que podem aferir a hipótese de "uma utilização de cloro pelo regime" sírio. No entanto, não fez qualquer alusão a eventuais represálias da França, caso esses ataques se confirmarem.

Em agosto de 2013, um ataque com armas químicas perto de Damasco, que segundo os serviços de informações norte-americanos provocou 1.400 mortos, quase desencadeou uma intervenção militar conjunta da França e EUA, em nome da “linha vermelha” delineada pelo então presidente Barack Obama.

No entanto, Obama renunciou no último minuto, optando por estabelecer um acordo com Moscovo sobre o desmantelamento do arsenal químico sírio. Paris manifestou então um profundo desacordo com o seu aliado norte-americano.

No final de maio, e ao receber o Presidente russo Vladimir Putin em Versalhes, Macron retomou o princípio da “linha vermelha” e afirmou que a França retaliaria, mesmo estando só, em caso de ataque químico.

Nas últimas semanas, o governo terá alegadamente lançado dois ataques químicos: um, em Saraqeb, uma localidade da província de Idlib, onde foram registados 11 casos de asfixia, segundo o OSDH; e o outro, em Ghuta Oriental.

A 22 de janeiro, o OSDH informou a ocorrência de 21 casos de asfixia. Paralelamente, habitantes da região e fontes médicas falaram de um ataque com cloro.

'Campanha de propaganda'

"Há provas evidentes" para confirmar o recurso ao cloro, revelou esta segunda-feira, a embaixadora norte-americana na ONU, Nikki Haley.

No dia seguinte, na terça-feira, a ONU anunciou ter aberto uma investigação sobre o uso de armas químicas e pediu um cessar-fogo de um mês no território sírio.

Aliado do governo de Bashar al-Assad, Moscovo denunciou uma "campanha de propaganda" destinada a "acusar o governo sírio" de ataques, cujos responsáveis não foram identificados. Por sua vez, Damasco negou categoricamente o uso de armas químicas.