“Este conflito, a maneira como está a ser desencadeado, principalmente nos últimos tempos, quando se mata um secretário do bairro, a coisa já não está a nível político, já está a entrar nas aldeia e isso é extremamente perigoso”, disse Graça Machel, em entrevista ao diário O País.

Destacando a necessidade de o país começar a construir pontes para reconciliação, como forma de acabar com a crise política e militar que opõe o Governo moçambicano e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido de oposição, Graça Machel disse que os moçambicanos precisam de aprender a conviver na diferença.

“Quando divergimos, havemos de falar, mas não nos vamos matar uns aos outros”, declarou a primeira ministra da Educação de Moçambique após a independência, acrescentando que para superar a crise política será necessário fazer o impossível.

“Temos de olhar uns aos outros com o mesmo sentido de pertença e destino comuns”, declarou a viúva do primeiro Presidente moçambicano, Samora Machel, reiterando a necessidade de parar imediatamente com as confrontações militares, que já deixaram um número desconhecido de mortos.

Para Graça Machel, Moçambique precisa de reinventar os seus próprios modelos sociais, respeitando a dinâmica e as exigências de novos tempos, dentro de clima de tolerância e transparência para garantir o futuro dos moçambicanos.

Ao analisar os atuais desafios económicos do país, a ativista social disse que a questão das dívidas escondidas, que totalizam 1,4 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros), contraídas entre 2013 e 2014, atingiu “proporções alarmantes”, alertando para o facto de as lideranças políticas moçambicanas estarem cada vez mais longe do povo.

“A partir de um certo momento, nós toleramos esta maneira de fazer as coisas [corrupção] e aceitámos essa forma de viver como se fosse normal”, lamentou a ativista moçambicana, acrescentando que, nestas condições, nem daqui a 50 anos o país vai sair da pobreza.