Durante o dia é momentaneamente noite. Mas apenas em alguns pontos do planeta. Para outros, o dia vai ficar apenas mais sombrio durante alguns instantes. Esta segunda-feira, 21 de agosto, a Terra presencia um eclipse solar total, visível como tal nos Estados Unidos da América. Segundo informação do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL), o eclipse "vai percorrer uma trajetória do Oceano Pacífico ao Atlântico, atravessando os Estados Unidos no sentido noroeste a sudeste, da costa do Oregon à costa da Carolina do Sul".

Os portugueses não terão tanta sorte. Por cá, o eclipse será apenas parcial, uma vez que o território português "ficará na penumbra da Lua". O eclipse será pouco percetível, já que "começa quando o sol se encontra próximo do ocaso", ou seja, do momento em que o sol se põe. Por isso, é mais difícil de observar. Quem está nos Açores terá uma melhor perceção do fenómeno astronómico, onde "o eclipse parcial será visível do início ao fim, apesar de também aí o sol estar já baixo no horizonte".

Em Portugal, os valores da lua a cobrir o sol rondam entre os 20% e os 33%, pelo que apenas se vai ver "uma dentada no sol, com a lua a tapar".

Pesamos menos durante um eclipse solar total

A NASA, num comunicado divulgado no início do mês, informa que as pessoas quando estão sob influência de um eclipse solar pesam menos do que o habitual. E porquê? Simplesmente porque somos influenciados pela gravidade da Terra, da Lua e do Sol.

Rui Agostinho, astrónomo e professor na FCUL, falou com o SAPO 24 sobre este fenómeno.

"Esta história de pesarmos menos acontece em todos os eclipses e também na lua cheia e na lua nova. É exatamente o mesmo efeito, e acontece porque os três astros [Terra, sol e lua] ficam mais ou menos alinhados. Se tomarmos o sol e a Terra para fazermos uma linha reta, todos o meses a lua cheia e a lua nova não estão em cima dessa linha mas ligeiramente acima ou abaixo. Porém, quando há um eclipse estão exatamente em linha reta. Daí podermos brincar e dizer que há um bocadinho mais de força diferencial feita pela lua e também pelo sol", começa por dizer o astrónomo.

"Fisicamente isto corresponde à mesma força que faz a maré oceânica subir cerca de um metro. Todas as pessoas sentem isso quando a maré está cheia ou vazia. Isto não é um fenómeno do estilo 'não perca a sua única oportunidade na vida de ver uma coisa destas'. Mas é muito giro! Não é nada de novo, é uma coisa que acontece regularmente. Todos os meses há lua cheia e lua nova, o que faz com que haja as marés vivas todos os meses na altura das luas. Este fenómeno de se perder peso acontece, então, todos os meses. Uma coisa miseravelmente pequena. É cerca de um décimo de milionésimo em relação à força gravitacional normal. A balança da casa de banho não vai medir nada, só mede quilogramas.

No momento do eclipse, a Terra estará a 151,4 milhões de quilómetros do Sol. A Lua terá uma distância da Terra de 365,649 quilómetros. E cada pessoa pesa menos 1,7 onças, ou seja, aproximadamente 0,048 kg.

Contudo, Rui Agostinho explica que "há uma grande diferença entre perder peso e perder massa. Os 50 kg de uma pessoa continuam os 50 kg de uma pessoa. Isso é a massa. Mas o peso é outra coisa. O peso é a força com que Terra nos puxa para baixo. A força é que diminui, mas a massa continua igual. A pessoa não perde massa e o peso é uma força. Se formos daqui para a lua, não perdemos massa. Mas a força muda e por isso as pessoas são puxadas para a superfície da lua com menor força. Tradicionalmente chamamos peso a isto, mas não é".

Com isto, para aqueles que quiserem ver o eclipse total, só há uma hipótese. "É apanhar o avião, ir para os EUA... e até se fica mais leve!", brinca Rui Agostinho. 

"O sol passa pela nossa pupila que está mais aberta e vai 'cozendo' a retina"

O aviso do OAL não deixa margem para dúvidas: "É obrigatório o uso de filtros solares oculares e fazer a observação por tempos curtos!".

Rui Agostinho alerta também para os perigos inerentes ao eclipse. "O fenómeno vai ser complicado. Em Portugal, isto vai acontecer à hora do pôr-do-sol. As pessoas estão na praia, a aproveitar a tarde, o sol está a começar a ficar baixo, fica avermelhado, já não tem tanto brilho e a tendência das pessoas vai ser mesmo olhar diretamente para o sol - se houver condições para isso -, mas não o devem fazer. Esse é o grande perigo", refere.

"Ainda por cima isto vai ser  muito badalado por causa dos Estados Unidos, que têm a particularidade de terem um eclipse total que atravessa o país por inteiro, de costa a costa. Vai ser uma coisa impressionante. Aqui também vão querer ver. E claro que ninguém vai a casa buscar filtros solares. E o problema de se tentar olhar é que muitos vão dizer que 'ah, tenho uns bons óculos de sol'. Mas os óculos não servem de nada. Não são a mesma coisa. Não dão mesmo. Há vários problemas envolvidos. O primeiro é que não temos sensor de dor na retina. Quando olhamos para o sol desviamos a cara, mas é mais uma reação de estarmos incomodados pela luz do que por sentirmos dor. Se quisermos ficar a olhar fixamente para o sol, não dói. Só causa um incómodo. Depois, como o sol está mais baixo e tem menos luz, a pupila abre mais, para ver mais luz".

Com o sol a pôr-se no oceano, vermelho e grande, é uma tentação não olhar o horizonte. Mas há o outro lado da situação. "A componente do vermelho e do infravermelho do sol passa pela nossa pupila que está mais aberta e vai 'cozendo' a retina. Curiosamente nós não sentimos imediatamente a perda de visão, porque é um fenómeno lento e porque quem constrói a imagem é o cérebro e a primeira reação é tentar construir uma 'imagem jeitosa'. No dia a seguir é que as pessoas se apercebem que não estão a ver tão bem. Esse é o problema que se cria. Vai fazendo danos. Se forem pequeninos, resolvem-se com um tratamento LED, mas se forem maiores podem dar mesmo problemas a sério", ressalta o astrónomo.

Para ver o eclipse em segurança, a melhor hipótese, caso não se tenha um telescópio próprio para tal, é recorrer aos filtros solares. Este ano, apenas estarão disponíveis em lojas de material de astrologia amadora. Para os residentes na zona de Lisboa, Rui Agostinho aconselha a Astrofoto. Para aqueles que têm filtros de outras observações, podem utilizá-los desde que estes estejam em bom estado de conservação.

Hora Legal do Eclipse em território português (segundo dados do OAL)

Porto

  • Começo - 19:44:33,9
  • Máximo - 20:21:59,2

Coimbra

  • Começo - 19:45:10,4
  • Máximo - 20:23:23,4

Lisboa

  • Começo - 19:45:54,1

Faro

  • Começo - 19:47:00,1

Madeira

  • Começo - 19:48:14,7
  • Máximo - 20:35:35,6

S. Miguel

  • Começo - 18:40:16,9
  • Máximo - 19:28:47,2
  • Final - 20:13:58,7

Terceira

  • Começo - 18:38:28,4
  • Máximo - 19:27:11,6
  • Final - 20:12:34,7

Faial

  • Começo - 18:37:27,0
  • Máximo - 19:27:11,7
  • Final - 20:13:26,7

Flores

  • Começo - 18:34:37,2
  • Máximo - 19:25:11,6
  • Final - 20:12:10,2

Corvo

  • Começo - 18:34:27,0
  • Máximo - 19:24:50,9
  • Final - 20:11:40,9