A libertação do ex-presidente Hosni Mubarak, que governou com mão de ferro o Egito durante 30 anos, encerra simbolicamente o capítulo da Primavera Árabe no país. O ex-presidente deixou o hospital militar onde estava preso, no Cairo, e foi para a sua casa, nos arredores de Heliopolis, também no Cairo, informou o seu advogado Farid al Dib.

"Às 08h30 desta manhã ele foi para casa", disse al Dib, citado pelo The New York Times. "Não tenho mais detalhes, mas está em casa e está bem", acrescentou.

A justiça egípcia absolveu a 2 de março deste ano o ex-presidente Hosni Mubarak no caso da morte de manifestantes nos grandes protestos de 2011, que acabaram com a sua saída do governo depois de três décadas no poder. A sua libertação, agora efetivada, foi anunciada segunda-feira, 13 de março.

Desde a sua prisão, em 2011, Mubarak passou a maior parte do seu tempo num hospital militar no Cairo. Apesar de ter sido libertado, o ex-presidente do Egito, não poderá viajar para o estrangeiro porque é ainda alvo de investigação por ganhos ilícitos, por parte de um órgão egípcio que monitora as fortunas acumuladas de forma fraudulenta.

No caso das mortes de manifestantes, Mubarak foi acusado de incitar o assassinato de participantes nos protestos durante a revolta de 18 dias, na qual cerca de 850 pessoas foram mortas em confrontos com a polícia. O ex-presidente foi condenado a prisão perpétua em junho de 2012, mas um tribunal de recurso ordenou um novo julgamento, no qual as acusações foram retiradas, dois anos depois.

Em novembro de 2014, um outro tribunal recomendou o arquivo das acusações, mas a procuradoria acabou por apresentar um recurso. A 2 de março deste ano, a justiça egípcia absolveu o antigo chefe de estado.

O ex-presidente, que "reinou" durante 30 anos sobre o Egito, foi julgado em vários casos, desde a sua destituição do poder, em fevereiro de 2011.

Em janeiro de 2016, o tribunal de recurso confirmou uma sentença de três anos de prisão contra Mubarak e seus dois filhos num caso de corrupção. Mubarak foi acusado, juntamente com os filhos, de desviar mais de 10 milhões de euros, alocados à manutenção do palácio presidencial. Além dos 3 anos de prisão, foram condenados a pagar uma multa de 125 milhões de libras egípcias (cerca de 15 milhões de euros) e a reembolsar o Estado em 21 milhões de libras (2,5 milhões de euros).

Hosni Mubarak chegou ao poder em 1981, após o assassinato do presidente Anwar Sadat durante uma parada militar. Trinta anos depois, foi arrancado do poder pela força das multidões que tomaram a Praça Tahrir em protesto por 18 dias. Escreve o The New York Times que a sua queda parecia um "terramoto de mudança" no mundo Árabe, a abertura de um novo capítulo que sugeria que os líderes poderosos já não eram imunes à vontade do povo. Mubarak, escreve o jornal, foi o primeiro líder árabe a ser julgado no seu próprio país. A sua absolvição e libertação é um ponto de viragem nas aspirações do muitos ativistas.