Em declarações à agência Lusa em resposta às críticas da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) sobre o relatório da comissão técnica independente, Joao Guerreiro afirma: "o relatório (...) foi feito baseado nos depoimentos e na documentação, na própria documentação da ANPC fornecida à comissão técnica independente durante o processo de elaboração do relatório".

"Tudo o que está escrito no relatório está suportado por declarações e documentos que analisámos, debatemos e sintetizámos no relatório", afirmou João Guerreiro, sublinhando que não conhece ainda o documento elaborado pela proteção civil com as críticas, que hoje foi divulgado pela TSF e pelo jornal i.

Neste documento, enviado para o Ministério da Administração Interna, entre outras críticas, a proteção civil aponta "omissões graves", erros e contradições ao relatório da comissão independente e, como exemplo, diz que ninguém de topo do comando nacional da ANPC foi ouvido ou contactado pelos peritos da comissão.

Questionado pela Lusa, João Guerreiro contraria esta crítica: "Todos os comandantes de operações de socorro (COS) foram ouvidos e o próprio topo da ANPC foi ouvido também, o presidente e o comandante Rui Esteves, que esteve na minha presença também da Assembleia da República e, portanto, o que está escrito no relatório resulta da análise detalhada das entrevistas que tivemos com a totalidade dos responsáveis pela operação".

"Não há qualquer dúvida sobre o que está no relatório da comissão técnica independente (...) nós fizemos entrevistas a quase 180 pessoas, analisamos documentação diversa, muita dela fornecida pela própria ANPC", acrescentou João Guerreiro.

De acordo com a TSF, o documento com as críticas enviado pela ANPC ao MAI contesta quase 30 pontos do relatório da comissão independente e diz que "as falhas apontadas, na prática, ou não existiram ou se traduzem em situações decorrentes da complexidade" do fogo de Pedrógão, que fez 64 mortos e mais de 250 feridos.

A ANPC diz que o relatório da comissão tem "erros e omissões na análise dos factos que geram inclusivamente contradições de referência, confundindo as conclusões a reter" e considera que há partes do relatório que têm "o propósito claro de levar o leitor, cidadão comum, desconhecedor dos meandros da resposta operacional, a formular o juízo de que houve inépcia e inoperância do Comando Nacional de Operações de Socorro".

Um dos pontos que é criticado pela ANPC diz respeito à paragem da fita do tempo apontada pelos peritos da comissão, que concluíram que o atual comandante operacional nacional, Albino Tavares, deu ordens para que, a partir das 04:56 do dia 18 de junho, não fossem registadas informações na fita do tempo sem autorização prévia.

“Todos os alertas deveriam ser comunicados ao posto de comando por telefone, e só após validação do mesmo seriam ou não inseridos na fita do tempo”, lê-se no relatório dos peritos da comissão independente criada pelo parlamento.

Em resposta, a ANPC nega tal conclusão e diz que a decisão de Albino Tavares foi “transferir para o posto de comando todas as informações inseridas na fita do tempo, deixando de ser registadas a partir de Leiria, onde é o comando distrital, devido às dificuldades de comunicações”, escreve o jornal i.

“Isto porque, caso as decisões fossem introduzidas na fita do tempo a partir de Leiria, ‘eram suscetíveis de originar erros ou omissões de localização/missão e/ou constituição das forças efetivamente empenhadas no terreno’”, acrescenta o jornal, citando a o documento de resposta da ANPC.

Sobre esta matéria, João Guerreiro diz que o assunto está "bem documentado" e que a comissão técnica tem testemunhos que lhe deram informações. "Não íamos colocar [no relatório] uma indicação que não resultasse da investigação que fizemos".

"A ANPC pode não concordar com algumas questões, mas o que está no relatório resulta da síntese que fizemos, das intervenções, da documentação recolhida", acrescentou.

No documento enviado ao MAI, a ANPC pede que este seja tornado público, “por respeito às vítimas e ao bom nome da instituição e dos seus operacionais".