“Poderia ter sido feito bastante mais em termos de fazer sentir às pessoas que iria haver um domingo anómalo em termos meteorológicos e que todo o país devia estar de prevenção de maneira a evitar atividades que constituíssem risco”, disse Joaquim Sande Silva, especialista independente nomeado pela Assembleia da República por indicação do BE para a Comissão Técnica Independente que analisou os incêndios na região Centro.

Joaquim Sande Silva, que falava no final de uma reunião com a líder do BE, Catarina Martins, na sede dos bloquistas, lembrou que é a Autoridade Nacional de Proteção Civil que "tem a capacidade de fazer alertas às populações".

"Outro aspeto que podia ter mudado e que não depende assim tanto de grandes alterações estruturais era se calhar ter havido um pré-posicionamento dos imensos meios que existem no país a nível de combate a incêndios", acrescentou.

Na opinião do especialista, "eventualmente se esses meios tivessem pré-posicionados e se tivesse havido uma antecipação relativamente a um domingo que se sabia que ia ser particular, eventualmente talvez as coisas pudessem ter sido diferentes".

"Há uma dose de especulação nisto que eu estou a dizer, mas o que faria sentido fazer, seria isto. Tentar antecipar um problema que se sabia que iria acontecer com maior ou menor magnitude", admitiu.

Questionado sobre as declarações do primeiro-ministro, António Costa - que na madrugada de hoje afirmou que os incêndios florestais são "um problema que seguramente se vai repetir" - Joaquim Sande Silva foi perentório: "acho lamentável ouvir essas declarações porque é encarar os problemas como uma fatalidade que não se consegue resolver".

"É dizer aos portugueses que é incapaz de resolver um problema que outros países resolveram", lamentou.

Para o perito, é preciso "mudar de paradigma" e deixar de ser "motivo de vergonha e embaraço internacional".

"Os incêndios de ontem têm muita coisa em comum com os incêndios de 17 de junho", comparou, dando como exemplo a "extrema secura dos combustíveis" e as questões estruturais que "não se esperaria que tivesse mudado em quatro meses".

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram pelo menos 36 mortos, além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou que o Governo assinou um despacho de calamidade pública, abrangendo todos os distritos a norte do Tejo, para assegurar a mobilização de mais meios, principalmente a disponibilidade dos bombeiros no combate aos incêndios.

Portugal acionou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o protocolo com Marrocos, relativos à utilização de meios aéreos.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, no verão, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou 64 mortos e mais de 250 feridos.