Depois de um verão com temperaturas elevadas e muito pouca chuva, Portugal chegou a outubro com mais de 80% do território continental em seca severa, segundo o último Boletim Climatológico do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

O IPMA, aliás, classificou o mês de setembro como o mais quente dos últimos 87 anos.

Quanto à área ardida, os incêndios queimaram, até final de setembro, o que representa o valor mais alto dos últimos dez anos, apesar de em número de ocorrências este ano apresentar o 5.º valor mais baixo.

Em áreas protegidas, foram destruídos mais de 20.000 hectares, entre eles mais de 70% do Monumento Natural das Portas de Ródão e mais de metade da Paisagem Protegida da Serra da Gardunha.

As condições meteorológicas excecionais fizeram o Governo prolongar este ano até final de outubro o período crítico do Sistema de Defesa da Floresta, que prevê a proibição de lançar foguetes e fazer queimadas e fogueiras nos espaços florestais, por causa das condições meteorológicas.

Foram também estas condições excecionais que ajudaram a dificultar o combate às chamas este ano, agravando as consequências como nunca na história do país, com um balanço negro superior a 90 mortos (64 em junho e pelo menos 31 este fim de semana) e a 250 feridos.

E estas consequências inéditas, designadamente as dos incêndios na Região Centro, levaram mesmo a oposição a exigir que o primeiro-ministro, António Costa, assumisse consequências políticas da tragédia e a pedir a demissão da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

De lá até hoje, houve poucas mudanças na Proteção Civil: demitiu-se o assessor de comunicação, Fausto Coutinho, em julho.

O comandante nacional da Proteção Civil, Rui Esteves, também saiu, mas por se ter tornado pública a informação de que fez a licenciatura com recurso a equivalências.

Entretanto, durante todo o verão, foram ouvidas muitas críticas à falta de meios e de estratégia no combate aos incêndios, com o dedo apontado às mudanças na estrutura de topo da Proteção Civil feitas desde que o Governo de António Costa entrou em funções.

Segundo foi noticiado pela imprensa, foram nomeados mais de dez novos comandantes distritais e quatro mudaram de cargo. Nove são novos na estrutura.

Com o país a arder e muitos a apontarem o dedo aos incendiários, o relatório da comissão independente divulgado na semana passada desmistificou o peso do fogo posto.

No documento, os peritos consideram que dizer que a maior parte dos incêndios florestais tem origem criminosa é “um mito profusamente difundido pela comunicação social” e “inadvertidamente” aproveitado por alguns políticos, contribuindo para a “desresponsabilização da sociedade”.

Afirmam os peritos que o facto de se continuar a passar a ideia de que a maior parte das ignições resulta de atos dolosos tem contribuído para que Portugal apresente “um elevadíssimo número de ignições quando comparado com os restantes países do Sul da Europa”, sendo que 98% das ignições que originam incêndios têm origem humana, mas na sua maior parte por negligência e acidentes.

Quanto aos incêndios na Região Centro, o relatório aponta falhas à Proteção Civil no comando e à gestão das operações de socorro, agravadas pelas dificuldades de comunicação. Sublinha igualmente que um alerta precoce teria evitado a maioria das 64 mortes de junho.

Apontou também a falta de conhecimento científico no sistema de defesa florestal e o incumprimento da lei de limpeza das áreas em redor de povoações, casas e estradas.

E como parece tudo ter falhado, os técnicos falam ainda de informação ocultada pelo atual comandante operacional nacional da Proteção Civil, Albino Tavares, que ordenou, na madrugada de 18 de junho, aos operadores de comunicações para que não registassem mais alertas na fita do tempo do incêndio de Pedrógão Grande.

O Governo veio, pela voz do primeiro-ministro, dizer que assumiria as consequências políticas desta tragédia e o Presidente da República veio lembrar que Portugal aguarda com expectativa estas consequências.

Já hoje, sobre os incêndios do fim de semana, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou: “Não é possível dizer que as conclusões de Pedrógão não tenham servido para agora, porque essas conclusões no essencial estiveram prontas e entregues no dia 12” e a “tragédia” de domingo “acontece muito menos de uma semana depois”.

Também hoje, depois do pior dia do ano em termos de fogos florestais, com mais de 500 incêndios, o primeiro-ministro anunciou que o Governo assinou um despacho de calamidade pública, abrangendo todos os distritos a norte do Tejo, para assegurar a mobilização de mais meios, principalmente a disponibilidade dos bombeiros no combate aos incêndios.

Portugal acionou igualmente o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o protocolo com Marrocos, relativos à utilização de meios aéreos.

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