Reunidos na principal praça da cidade, os manifestantes ouviram o hino de Braga, tocado pela orquestra da Gulbenkian, percorrendo depois as ruas do centro histórico até à Praça do Município, onde fica a Câmara Municipal, num cortejo dividido em dois grupos, um a passo de palavras de ordem e um outro pautado pelo silêncio, muito silêncio.

A concentração reuniu pais com bebés ao colo, "pelo desejo que cresçam num país com floresta", gente já sem idade e muita juventude.

"Nunca na minha vida vi uma coisa como aquela que se viu em Braga no domingo, menina. O fogo parecia que vinha engolir a cidade, mas felizmente ficou nas matas", descreveu Maria dos Anjos.

Em Braga, ninguém morreu e "apenas" uma casa ardeu, mas o medo, "o medo foi muito", confessou Albertino, mão entrelaçada em Maria.

"A nossa casinha fica junto ao Sameiro. Pensámos que íamos ficar sem nada, uma vida de trabalho. As paredes de fora ficaram negras, mas foi só isso. Foram os anjos por nós", disse.

Vieram à manifestação por solidariedade por quem perdeu tudo, até a vida: "Nós tivemos sorte. Mas morreu demasiada gente. E é por eles que viemos. Paz às suas almas", explicaram.

A organização, em declarações aos jornalistas, explicou que a manifestação tem como propósito reclamar "educação, prevenção e combate".

"Educação para isto não voltar a acontecer, prevenção para limpeza das matas e o combate, porque os bombeiros têm meios com 20 e 30 anos e não faz sentido", afirmou Miguel Veloso.

E foi para os bombeiros que foram a maioria das palavras de ordem.

"É necessário para os bombeiros um salário", disse-se, ouviu-se e acenou-se em concordância.

"Para os bancos vão milhões, para as florestas sobram tostões", também se ouviu, também se repetiu.

"Um dos problemas de Portugal é que se gastou tudo na banca. Estamos aqui também para exigir que o dinheiro público seja usado na floresta e não nos bancos", justificou Américo Castro, de bandeira de Portugal numa mão, o neto na outra.

E atrás do ruído, o silêncio. Centenas de pessoas seguiram em silêncio, passo a passo, olhares pesados, cartazes, poucos.

"Mais do que barulho, temos que refletir. E o silêncio destas pessoas todas fala por si. É preciso agir, não basta falar. Aliás, palavras já houve muitas", reclamou Américo.

O cortejo seguiu até à Praça do Município, onde se fez silêncio, um minuto, se bateu palmas, um minuto, e se ouviu o Hino Nacional.

As centenas de incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram 44 mortos e cerca de 70 feridos, mais de uma dezena dos quais graves.

Os fogos obrigaram a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas, sobretudo nas regiões Norte e Centro.

Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos em Portugal, depois de Pedrógão Grande, em junho deste ano, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou, segundo a contabilização oficial, 64 vítimas mortais e mais de 250 feridos. Registou-se ainda a morte de uma mulher que foi atropelada quando fugia deste fogo.