“O problema na Europa é apenas de falta de visão e de vontade política. Não se trata nem de falta de meios, nem de instrumentos de ação”, afirmou, numa conferência que decorre hoje na Universidade de Évora.

Apesar de sublinhar que é um “europeísta convicto”, Jorge Sampaio foi muito crítico em relação à resposta que tem sido dada pelos países da UE à crise dos refugiados, aludindo mesmo a “exemplos indecentes”, como no caso da Hungria.

“Tenho que dizer que tudo isto está, neste momento, muito fragmentado, com exemplos indecentes. Uma pessoa sente-se mal quando vê um arame farpado na Hungria”, na fronteira, devido aos refugiados, disse.

Para o antigo Presidente da República, que lidera a Plataforma Global de Assistência Académica de Emergência a Estudantes Sírios, por si criada em 2013, existe “uma falta de liderança política desta crise”, na Europa.

“Há uma falta de assumir o combate pelos valores que nos caracterizaram, que estiveram na origem daquilo que é a UE”, de “não ter receio disso interna e externamente ou não ter duas linguagens, uma externa e uma interna”, frisou.

Jorge Sampaio falava durante a conferência “Direitos Humanos e Desenvolvimento Sustentável”, no âmbito do ciclo de encontros sobre “Desenvolvimento, Direitos Humanos e Segurança” que a Universidade de Évora promove este ano.

Perante uma plateia constituída, sobretudo, por alunos da academia, incluindo os quatro jovens sírios que estudam na Universidade de Évora graças à plataforma global que criou, o antigo chefe de Estado alertou que o fenómeno dos refugiados “não vai abrandar, tem uma dimensão global e atinge proporções verdadeiramente inauditas”.

Atualmente, lembrou, “há 37 focos de conflito aceso em curso” e “a duração média de uma guerra civil” ronda os “oito a 10 anos”. Em 2015, continuou, “registaram-se 78,9 milhões de refugiados e deslocados”.

“A duração média de permanência num campo de refugiados”, como os “que todos os dias veem na televisão”, oscila “entre 17 a 20 anos”, o que “não tem absolutamente nada de provisório” e, para a maioria das pessoas, “é inimaginável”.

Por isso, defendeu, as respostas a este fenómeno “não podem ser de natureza puramente imediatista, nem revestir um simples caráter provisório”.

“Os refugiados não são uma população homogénea que deva ser tratada em bloco, a partir de uma ‘etiqueta’ que se lhes cola à cabeça”, avisou, defendendo a necessidade de serem adotadas “abordagens diferenciadoras que permitam encontrar respostas apropriadas em prazos curtos”.

Uma dessas vias é pela educação e por permitir o acesso ao ensino superior aos estudantes da Síria, país em que “25% dos jovens” que concluía o secundário entrava na universidade, antes da guerra, enquanto, agora, “apenas 1% dos refugiados é admitido no ensino superior”.

“Se nada se fizer, haverá gerações inteiras perdidas no que respeita aos diplomados universitários”, alertou, insistindo na necessidade de criar um mecanismo de resposta rápida para jovens em situações de emergência que frequentem o ensino superior, medida já propôs, em setembro, nas Nações Unidas, em Nova Iorque, num encontro à margem da Cimeira dos Refugiados e Migrantes.