Esta é uma das revelações feitas pelo antigo chefe de Estado (1996-2006) no segundo volume da sua biografia política, da autoria do jornalista do Expresso José Pedro Castanheira e que será lançado pela Porto Editora em 20 de março e apresentado em 7 de abril.

No livro, de 1063 páginas e que abrange o período da presidência da Câmara de Lisboa e os dez anos em Belém, Sampaio afirma que foi o seu amigo Nuno Brederode Santos que o desafiou a avançar mais cedo do que pretendia, alegando que o PS se preparava para apoiar outro candidato.

“Tens que avançar, e já, porque os gajos vão decidir outra coisa”, disse-lhe o amigo, levando Sampaio a telefonar logo a seguir a António Guterres, então secretário-geral do PS, para lhe comunicar que iria avançar.

Sampaio confessa mesmo que teve um dos seus “impulsos” e acedeu a telefonar “de imediato” ao então líder do PS e hoje secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Peguei no telefone, fez-se um silêncio absoluto e todos os que estavam ouviram a conversa: ‘Oh Guterres, é só para lhe dizer que vou anunciar a minha candidatura dentro de dias”, realça. A candidatura presidencial foi anunciada em fevereiro de 1995.

À novidade, Guterres respondeu: “Eh pá! Você não nos vai fazer uma coisa dessas! Com certeza que o apoio, mas o partido ainda não está preparado, é preciso discutir melhor. Não pode adiar uns dias”, perguntou. Sampaio respondeu que não.

“O Guterres ficou absolutamente à rasca, porque tinha uma gestão interna difícil de fazer. Não esperavam que lhes comunicasse assim de repente e cortei-lhes qualquer hipótese”, adianta.

O ex-chefe de Estado considera, contudo, que Guterres acabaria por apoiar a sua candidatura à Presidência, mesmo se o tivesse feito mais tarde, até porque a isso se propusera antes de ser eleito secretário-geral do PS.

“A antecipação relativamente ao partido foi o que me valeu para manter a independência até ao fim. Mas estou convencido de que Guterres acabaria sempre por me apoiar: no fundo, era o compromisso que me propusera antes de ele ser eleito secretário-geral”, acentua.

No livro, Jorge Sampaio recorda a preferência do seu antecessor em Belém, o falecido Mário Soares, por outro candidato. Apesar de o considerar “um tipo sério”, Soares achava que Sampaio era “muito hesitante, uma tortura”, além de não ter “alegria nem savoir-faire”.

“Não tenho a menor dúvida de que não me queria como sucessor. Não lhe comuniquei nada e só se rendeu à minha candidatura quando, uns meses depois, me convidou e à Maria José para jantar em sua casa no Campo Grande. Era a consagração do candidato”, conclui o ex-Presidente da República.