Duas semanas antes da primeira ronda das eleições francesas, Le Pen reabre o debate sobre o papel do Governo num dos episódios mais sombrios da história francesa, durante o domínio nazi.

Em julho de 1942, registou-se o maior aprisionamento em massa de judeus, em França: cerca de 13 mil pessoas foram capturadas pela polícia. Os judeus foram detidos no Velódromo de Inverno de Paris - conhecido por Vel d’civ - antes de serem deportados para o campo de concentração de Auschwitz.

No total, 76 mil judeus franceses foram deportados e mortos. Em 1995, o então presidente Jacques Chirac reconheceu a responsabilidade do Estado francês quanto à deportação dos judeus para campos de concentração nazis. Esta foi a primeira vez que um chefe de Estado francês do pós-guerra reconheceu o papel do país no extermínio.

Sobre o assunto, Le Pen afirma que “se há pessoas responsáveis, são as que estavam no poder na época, não a França”. Além disso, reforça a ideia de que apenas se veem os “aspetos mais negros da história” e que pretende que as crianças “comecem novamente a sentir orgulho por serem francesas”, cita o Independent

Os rivais de Le Pen repudiaram os seus comentários, que podem reverter os esforços da candidata em limpar a imagem anti-imigração do seu partido, a Frente Nacional, e de distanciá-la das opiniões antissemitas do seu pai, Jean-Marie Le Pen.

O Ministério das Relações Exteriores de Israel lamenta o facto de o antissemitismo começar a “levantar a cabeça novamente, hoje”, cita a Reuters. “Isto contradiz a verdade histórica como é expressa em declarações de presidentes franceses que reconheceram a responsabilidade do país no destino dos judeus franceses que pereceram no Holocausto”.

As redes sociais em França reagiram e Vel d’Hiv esteve bastante presente no Twitter nesta segunda-feira, o primeiro dia oficial de campanha para as eleições que ocorrem a 23 de abril.

Gilles Ivaldi, da Universidade de Nice, disse que as afirmações de Le Pen só a prejudicam, uma vez que vão “completamente contra os esforços do partido e dão razão a que se continue a dizer que a Frente Nacional continua a ser um partido com militantes e cultura de extrema-direita”.

Quanto aos resultados eleitorais, as sondagens da Opinionway consideram que Le Pen fica com 24% na primeira volta, à frente de Macron com 23%, Fillon com 19% e Mélenchon com 18%. Na segunda volta, a 7 de maio, Macron é o provável vencedor, atingindo os 62% de votos.