Na primeira intervenção no debate do estado da Nação, Luís Montenegro evocou os incêndios que provocaram 64 mortes, o furto de material de guerra em Tancos, as recentes demissões de secretários de Estado mas também a fuga de informação num exame nacional e a decisão da maioria de esquerda de encerrar os trabalhos da Comissão de Inquérito sobre a Caixa Geral de Depósitos (CGD) para tirar uma conclusão.

"O Governo chega a este debate num processo de degradação indisfarçável. O Governo está a colapsar, perde autoridade todos os dias e o país já percebeu que, nos momentos difíceis, nas contrariedades, o Governo não tem liderança, ou, no mínimo, tem uma liderança muito frágil", acusou o líder da bancada social-democrata.

Na resposta, o primeiro-ministro, António Costa, lamentou que a visão do PSD sobre o estado da Nação se resuma aos últimos 15 dias.

"O que aqui assistimos não foi a uma descrição do colapso do Estado, foi a uma descrição do colapso do sentido de Estado do PPD/PSD", acusou.

Aludindo ao facto se se tratar da última intervenção de Montenegro como líder parlamentar do PSD - há eleições na bancada na próxima semana -, António Costa disse no final da troca de palavras entre ambos ter sido "um enorme prazer" tê-lo como interlocutor ao longo do último ano e meio.

"Não sei se no próximo ano voltarei a tê-lo como interlocutor noutra qualidade, desejo-lhe em qualquer caso as maiores felicidades e solidez na sua atual ou futura liderança", afirmou.

Numa intervenção de quase 15 minutos, muitas vezes interrompida por apartes do PS e aplaudida de pé no final pela bancada do PSD e por vários deputados sentados do CDS-PP, Montenegro passou em revista as mais recentes polémicas da vida nacional para acusar António Costa de chegar ao debate com a "autoridade política muito diminuída".

"Para nós que somos oposição isso não é propriamente um problema, o problema é Portugal", afirmou, considerando que o Estado está a ser atingido nos seus pilares fundamentais.

O líder parlamentar do PSD defendeu que "o Estado colapsou" ao não conseguir salvaguardar os cidadãos nos incêndios que deflagraram em Pedrógão Grande ou ao não aceitar um mecanismo rápido de indemnizações para as populações afetadas.

"Quando o seu, o seu sistema SIRESP, que o senhor criou, que o senhor decidiu, de que o senhor é autor, falhou no exato momento em que não podia falhar o Estado colapsou", acusou.

A este propósito, António Costa respondeu que a área ardida em Portugal desceu para menos de metade da que existia antes de ser ministro da Administração Interna.

"A política não é só para os dias fáceis, nos dias difíceis nós devemos saber resistir à tentação de à força de não querermos que a culpa morra solteira arranjar um casamento de conveniência para a culpa que ainda não arranjou um marido adequado", disse o primeiro-ministro.

Montenegro reiterou a acusação de que "o Estado colapsou" a propósito do furto de material de guerra em Tancos, à recente fuga de informação num exame nacional de Português ou à exoneração de três secretários de Estado.

"Quando há um ano o primeiro-ministro não tirou qualquer consequência política da conduta de membros do Governo que terão viajado a convite de uma empresa e um ano depois aceita a sua demissão, é a liderança do Governo que é atingida", criticou, lamentando ainda que o primeiro-ministro não tenha pedido desculpa por ter feito "insinuações infundadas" a propósito da saída de capitais para ‘offshores' durante o executivo PSD/CDS-PP.

As críticas de Montenegro estenderam-se também aos partidos que apoiam a atual solução governativa - PCP, BE e Verdes -, acusando-os de "branqueamento político" no caso da comissão de inquérito à Caixa e ao aceitarem quase mil milhões de euros de cativações.

"Quando aplaudem um Governo que faz o contrário do que disse, é a democracia que também está a colapsar", disse.

Mesmo em relação aos resultados económicos do atual Governo, o líder parlamentar do PSD atribuiu-os à "herança financeira e reformista" que receberam do anterior executivo, à conjuntura externa "extremamente favorável" e "à resiliência" do povo português.

"O que vale a Portugal é o seu povo. Este governo é um ‘flop'", disse, considerando que o país estaria "mais rico, mais próspero e mais justo" se PSD e CDS tivessem continuado a governar.

Na resposta, António Costa refutou estes argumentos, referindo que em 2015, quando terminou o mandato do anterior governo, "a economia estava em desaceleração" e sublinhou que o país está a crescer mais do que a média europeia.

[Notícia atualizada às 16:39]