Quer compreender realmente a atual situação política em Portugal? Comece por conhecer melhor os seus protagonistas. Afinal de contas, são os líderes partidários que conduzem o jogo do poder. E prepare-se para ficar muito surpreendido. Porque na política, as aparências enganam mesmo…

Para entender bem as jogadas dos políticos, é necessário conhecer primeiro o tabuleiro onde se posicionam as suas personalidades, o Mapa EGOS, mais abaixo.

Como seria de esperar, todos os líderes políticos em qualquer parte do mundo evidenciam fortes características do perfil Empreendedor. Por isso é que conseguem superar os seus oponentes internos e ascender à posição cimeira nos respetivos partidos. Mas as semelhanças terminam aqui…

De facto, a orientação ideológica de cada partido reflete-se geralmente no seu posicionamento distinto no Mapa EGOS. Ideologias políticas de direita, como o liberalismo e o conservadorismo, sendo defensoras da liberdade de atuação dos cidadãos e de uma reduzida intervenção estatal, tendem a fomentar o individualismo e a competição (características do perfil Empreendedor), a par com o pragmatismo e a adaptação às circunstâncias (características do perfil Operacional).

Inversamente, ideologias políticas de esquerda, como o socialismo e o comunismo, sendo defensoras de uma sociedade igualitária e de uma elevada intervenção estatal, tendem a fomentar a utilização coletiva dos recursos e a cooperação (características do perfil Social), a par com a planificação e a regulação governamental (características do perfil Governador).

Qualquer ideologia política pode ainda ser adotada num sistema democrático, que tende a fomentar o envolvimento alargado dos cidadãos (característica do perfil Social) e a luta pelos votos dos eleitores (característica do perfil Empreendedor), ou num sistema totalitário, que tende a fomentar controlo absoluto do estado (característica do perfil Governador) e a passividade da população (característica do perfil Operacional).

Por exemplo, enquanto na Holanda, uma nação atualmente com um regime liberal (ideologia de direita) e democrático, é acentuada a livre iniciativa e a orientação prática para a ação, na Coreia do Norte, uma nação atualmente com um regime comunista (ideologia de esquerda) e totalitário, é imposta a submissão à autoridade do líder e o cumprimento estrito das diretrizes presidenciais.

Portanto, a par das suas características do perfil Empreendedor, os dirigentes partidários também costumam assumir características típicas das ideologias que promovem. Assim se compreende que os líderes políticos em Portugal tenham posicionamentos diferentes no Mapa EGOS:

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  • Passos Coelho: personalidade EG, mediamente introvertida, que combina características liberais (E) com algum sentido regulatório (G), como é habitual num partido social-democrata europeu.
  • Paulo Portas: personalidade ES, bastante extrovertida, que combina características individualistas (E) com alguma preocupação social (S), como é habitual num partido de direita com inspiração católica.
  • Catarina Martins: personalidade SE, bastante extrovertida, que combina características coletivistas (S) com alguma orientação competitiva (E), como é habitual num partido de esquerda gerado pela fusão de várias doutrinas.
  • Jerónimo de Sousa: personalidade GE, mediamente extrovertida, que combina características normativas (G) com algum pendor de luta revolucionária (E), como é habitual num partido comunista de raízes soviéticas.

O posicionamento das personalidades destes quatro líderes partidários no Mapa EGOS reflete bem as suas semelhanças e diferenças. Na realidade, apesar de Passos Coelho e Paulo Portas partilharem a predominância do perfil Empreendedor, contrastam na abordagem às questões políticas: Passos Coelho é bastante mais estruturado (G) e Paulo Portas muito mais impulsivo (S). Por isso, poucos acreditavam que a coligação conseguisse durar os 4 anos da legislatura, e o episódio da demissão irrevogável pareceu dar razão a todos os céticos. Porém, para surpresa geral, a rutura não aconteceu e ambos os líderes passaram mesmo a ser mais flexíveis e convergentes na condução do Governo: Passos Coelho passou a ser mais comunicativo (S) e menos controlador (G), enquanto Paulo Portas passou a ser mais regrado (G) e menos emotivo (S). E dessa forma a rivalidade inevitável entre as suas personalidades Empreendedoras também ficou muito atenuada.

Por outro lado, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa divergem bastante na abordagem às questões políticas, apesar de comungarem de ideologias de esquerda. Catarina Martins é mais inspiradora (S), como é típico da esquerda urbana moderna, enquanto Jerónimo de Sousa é mais dogmático (G), como é típico da esquerda comunista tradicional. E como ambos também são competitivos (E), não admira que o entendimento entre os dois partidos não seja fácil...

Mas o mais curioso é que estes quatro líderes políticos podem ser agregados em dois grupos que cruzam as fronteiras ideológicas. Na verdade, Passos Coelho (EG) e Jerónimo de Sousa (GE) têm personalidades muito próximas, tal como Paulo Portas (ES) e Catarina Martins (SE) têm muitas características em comum! Assim se compreende que estas posições políticas tanto se possam complementar, como tem sido o caso à direita com o PSD e o CDS-PP, como possam competir entre si, como tem sido o caso à esquerda com o Bloco de Esquerda e o PCP.

Falta contudo analisar um último líder partidário para compreender bem o atual jogo do poder político…

  • António Costa: personalidade EO, mediamente introvertida, que combina características de ambição (E) com um sentido prático e improvisador (O), o que é pouco habitual num partido socialista europeu.

Na realidade, António Costa tem poucas características dos perfis Social ou Governador evidenciadas pela maioria dos líderes do PS (Mário Soares, Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres e António José Seguro), e apenas revela algum do forte pendor Empreendedor de José Sócrates. O que torna António Costa único é mesmo o elevado peso das características do perfil Operacional na sua personalidade. E isso ajuda a compreender melhor a sua atuação política antes e depois das eleições…

  • Só avançou contra António José Seguro quando achou que a posição dele estava fragilizada (pragmatismo)
  • Tomou decisões precipitadas no apoio a Sampaio da Nóvoa e na preparação dos cartazes (improvisação)
  • Conduziu a campanha eleitoral de uma forma algo errática, com aproximações à direita e à esquerda (maleabilidade)
  • Promoveu múltiplas reuniões com os outros líderes partidários sem qualquer pressão temporal (paciência)

Esta atuação tanto foi criticada como elogiada com argumentos políticos e morais, mas a verdade é que António Costa apenas evidenciou a sua própria personalidade EO: combinando de uma forma invulgar a competitividade (E) com a adaptabilidade (O), reinventou o jogo do poder em Portugal. Contudo, esta abordagem pioneira também explica a sua dificuldade em ser bem sucedido. É que as jogadas de António Costa podem ser muito diferentes, mas as regras do jogo não mudaram…

Na realidade, Passos Coelho e Paulo Portas desconfiam da indecisão do líder do PS e criticam a sua hesitação em assumir plenamente os compromissos europeus, não se revendo portanto nas suas características mais Operacionais. Por seu lado, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa desconfiam da necessidade de protagonismo do líder do PS e criticam a sua argumentação economicista, não se revendo portanto nas suas características mais Empreendedoras.

Ainda assim, a análise do Mapa EGOS revela sem qualquer margem para dúvidas com quem é que António Costa se prefere aliar:

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Enquanto numa aliança à direita António Costa fica numa posição subalterna e em competição permanente com Passos Coelho e Paulo Portas, numa aliança à esquerda António Costa assume a desejada liderança e ainda se posiciona como o elemento agregador de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa. Nesta opção, a aproximação ao Bloco de Esquerda é obviamente a mais fácil, uma vez que as características Sociais de Catarina Martins propiciam um rápido entendimento. O problema é a aproximação ao PCP, uma vez que Jerónimo de Sousa é um líder bastante mais rígido e prefere partir a torcer…

Não admira pois que o futuro político de Portugal passe pela eventual flexibilização de Passos Coelho ou de Jerónimo de Sousa na interação com António Costa. Quem conseguir atenuar as suas características Empreendedoras ou Governadoras e reforçar as suas características Operacionais, estará em melhores condições para criar uma aliança parlamentar com o PS. Depois só terá de se preocupar com a sua manutenção ao longo do tempo…

O jogo do poder não se disputa portanto apenas no tabuleiro político. Em última análise, é também uma luta de EGOS!

MAPA EGOS

O Mapa EGOS é um inovador modelo de personalidade assente na combinação de quatro perfis distintos.

Empreendedor: competitividade, tomada de iniciativa, orientação para os objetivos, rapidez de atuação e pensamento estratégico.

Governador: lógica, rigor analítico, orientação para os processos, aversão ao risco e controlo normativo.

Operacional: improvisação, persistência, orientação para a execução, pragmatismo maleável e informalidade.

Social: cordialidade, comunicação persuasiva, orientação para as pessoas, idealismo emotivo e impulsividade.

Obviamente, cada pessoa integra à sua própria maneira características de todos os perfis EGOS na sua personalidade. Mas em função da sua natureza biológica e psicológica, tende a assumir sobretudo as características de determinados perfis ao longo da vida (personalidade natural). Ainda assim, em situações específicas, a pessoa pode precisar de acentuar outras características, adotando então temporariamente personalidades mais adequadas a esses contextos (personalidades adaptadas).

Adriano Freire é Professor da Universidade Católica e autor do livro Mapa EGOS.

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