Marcelo Rebelo de Sousa falava na apresentação do livro "Papa Francisco. A Revolução Imparável", dos jornalistas António Marujo e Joaquim Franco, editada pela Marcador, na igreja do Convento de São Domingos, em Lisboa.

O chefe de Estado apontou este livro como um contributo de "um setor que tem ficado empobrecido no mundo católico português, que é o setor da chamada esquerda católica", e que no seu entender "faz falta".

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, em Portugal "tradicionalmente há mais gente conservadora no mundo católico do que gente que o não é", e mesmo nos anos 60 e 70 "havia de facto uma esquerda católica muito viva, embora a maioria fosse uma direita católica".

"E eu sempre pensei, antes de ser Presidente da República, portanto, não tem a ver com o cargo, que faz falta mais esquerda católica", acrescentou.

Na sua opinião, isso contribuiria para que não se identifique "às vezes apressadamente" as "vivências católicas ou cristãs" com "determinados posicionamentos doutrinários, ideológicos ou partidários".

"É empobrecedor. A mensagem é muito mais vasta do que isso, é muito mais rica do que isso. E com isto eu não estou a dizer que não seja bom haver direita católica, mas é o que há mais. O que há menos é esquerda católica", reforçou.

Neste discurso, o chefe de Estado falou como católico, utilizando várias vezes a primeira pessoa do plural, e no final da sua intervenção referiu-se ao enfraquecimento do catolicismo nas regiões metropolitanas do país.

"Nós, cristãos, achamos que vivemos num país esmagadoramente católico. Nós, católicos, achamos isso, e estatisticamente é. E não nos damos conta de que uma parte considerável do país, o país metropolitano já não é esmagadoramente católico. É assim", disse.

O Presidente da República defendeu que isso "não é nenhum drama, drama é não perceber isso, e continuar a viver como se isso não existisse".

"Há sociedades onde o catolicismo é minoritário e muito mais minoritário do que é em Portugal, no Portugal metropolitano. É assim, fruto de fenómenos diversos, ao longo do tempo", afirmou. "É uma realidade", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que "basta, aliás, olhar para o resultado de dois referendos sobre a interrupção voluntária da gravidez (IVG), com o espaço de dez anos, para perceber o que mudou em Portugal entretanto".

No primeiro referendo, em 1998, o "não" à despenalização da IVG, realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas de gravidez, venceu o "sim" com 50,91% dos votos. No segundo referendo, em 2007, o "sim" venceu com 59,25%.