Numa cerimónia na Sala dos Embaixadores do Palácio de Belém, em que condecorou a Associação Portuguesa de Imprensa com o título de membro honorário da Ordem do Mérito, o chefe de Estado realçou o "peso esmagador da publicidade de grandes empresas multinacionais no que respeita à imprensa eletrónica".

"Estamos a falar de 80% ou mais da publicidade detida por um número muito limitado de empresas multinacionais", referiu, acrescentando que, num prazo muito curto, a situação “constitui um problema”.

“Sei que o Governo está atento a esse problema, que impõe [a necessidade de] medidas que permitam ir ao encontro das vossas aspirações e das vossas necessidades", acrescentou.

Marcelo Rebelo de Sousa falava perante cerca de 30 representantes de órgãos de comunicação social centenários, membros da Associação Portuguesa de Imprensa, como o Açoriano Oriental, o Diário de Notícias, A Voz do Operário, o Jornal de Notícias e a Folha de Tondela.

"Homenageio a vossa coragem, a vossa determinação, a vossa persistência, mas estou seriamente preocupado com o panorama da imprensa em Portugal", declarou.

O Presidente da República acrescentou que está "preocupado, não por falta de liberdade, não por falta de criatividade, não por falta de determinação, mas porque as condições objetivas, nomeadamente económicas e financeiras, são cada vez mais limitativas".

Referindo que conhece bem o setor, afirmou: "Acompanho as vossas vicissitudes. Sei bem como é difícil a produção, como é muito difícil a distribuição, como é um problema cada vez mais grave a publicidade e, portanto, a sobrevivência económica e financeira da imprensa portuguesa".

O chefe de Estado começou por deixar "uma palavra de homenagem à imprensa portuguesa, no Dia da Liberdade, o que faz todo o sentido", agradecendo-lhe por "essa liberdade vivida todos os dias, com grandes sacrifícios, com uma dificuldade crescente".

Marcelo Rebelo de Sousa disse que, não podendo receber todos os órgãos representados pela Associação Portuguesa de Imprensa neste dia 25 de Abril, quis reunir em Belém os "representantes de órgãos seculares", que "têm uma longa história", vindos de todo o país.

"Não sendo possível na mesma cerimónia galardoar todos vossas excelências e as vossas instituições - isso será feito paulatinamente ao longo dos próximos meses e anos - havia que, simbolicamente agraciar o vosso mérito, a vossa tenacidade, a vossa resistência. Nada melhor do que condecorar a associação", justificou.

A condecoração à Associação Portuguesa de Imprensa abrange todos os que diariamente "permitem esse milagre que é recriar a imprensa em Portugal", concluiu.

Em seguida, o presidente da direção da Associação Portuguesa de Imprensa, João Palmeiro, elogiou "a grandeza de alma do senhor Presidente, a sua visão em relação a este setor".

João Palmeiro destacou a presença nesta cerimónia do diretor-geral do Global Editors Nework, Bertrand Pecquerie, e considerou que esta ocasião lhe permitiu perceber que "o Presidente da República Portuguesa sente e quer que a imprensa em Portugal seja forte, livre e um pilar da democracia".

"Senhor Presidente, a condecoração que nos deixou é a memória dessa sua visão, é a memória dessa sua vontade e é a obrigação da nossa luta e de continuarmos a honrar este país", acrescentou.

No final da cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa sugeriu que tirassem "uma foto de família", como é habitual, e realçou os anos de vida das publicações ali representadas: "Tudo somado, é muito mais do que a história de Portugal".