“Vir como peregrino é mais grave” por estar “a contribuir para o desvio da fé autêntica”, disse à Lusa Mário de Oliveira, padre da igreja do Porto afastado do ofício pastoral desde o período anterior à revolução de abril de 1974 e conhecido popularmente como “padre da Lixa”.

Com vários livros publicados, o último dos quais em maio de 2015, “Fátima $A”, Mário de Oliveira lançou a primeira “onde de choque” na denúncia do que assegura ser um “embuste” em 1999, com a publicação de “Fátima Nunca Mais”.

“Muita gente ficou escandalizada. Estavam convencidos de que Fátima era uma grande manifestação da fé católica e vem um padre dizer que Fátima não faz parte da fé católica e é até contrária à fé cristã”, disse à Lusa.

Por isso, foi dos primeiros a juntar o seu nome à petição “contra a credibilização do ‘milagre’ de Fátima”, lançada em outubro de 2016, numa tentativa de travar a visita de Francisco no próximo mês de maio, por vir “credibilizar uma falsidade”, um “autêntico embuste”, um “processo contínuo e imparável de exploração religiosa montado sobre uma ingénua encenação”.

Para Mário de Oliveira, se as visitas de João Paulo II a Fátima ainda se podem explicar por ser polaco e haver “toda a história de que Fátima ia destruir o comunismo”, já a vinda de um papa latino-americano e ainda por cima jesuíta é mais incompreensível.

“Como jesuíta estudou alguma coisa de Fátima e saberá que Fátima só se impôs porque os jesuítas se meteram, são os primeiros confessores e diretores espirituais de Lúcia quando ela é encurralada no convento (…), estando nas origens das chamadas Memórias da Irmã Lúcia”, afirmou.

Este é, aliás, um dos temas do livro “Fátima $A”, que “desmonta” a “Documentação Crítica de Fátima”, 15 volumes publicados entre 1992 e 2013 pelo Santuário de Fátima sob orientação de Carlos Azevedo, atualmente delegado do Conselho Pontifício da Cultura e ele próprio autor do livro “Fátima, das visões dos pastorinhos à visão cristã”, que promete “informação inédita” do Arquivo Secreto do Vaticano.

No livro, lançado dois anos antes do centenário de Fátima, antecipando-se à profusão de publicações que já se adivinhava, Mário de Oliveira distingue “duas Fátimas”, a de 1917 a 1930, que "é quando, restaurada a diocese de Leiria, o bispo legitima e dá luz verde a que haja ali um culto especial”, e a criada a partir de 1935, “que é muito dos jesuítas [que trabalham a mente e a consciência da Lúcia]”.

É esta versão que "se impõe ao mundo, porque a primeira, pelos relatos que há na documentação, morria ao nascer”, afirmou, sublinhando que é nas Memórias “que se inventa a Fátima contra o comunismo”, porque em 1917, até à revolução bolchevique, “havia a Rússia dos czares, que era cristã ortodoxa”, além de que Lúcia e os primos Jacinta e Francisco eram crianças que nem andavam na escola.

Mário de Oliveira “desmonta” ainda a última parte do chamado “segredo” de Fátima, que assegura ser claro, nas “entrelinhas” da Documentação Crítica, ter sido “escrito à pressa”.

Não poupa críticas a Joseph Ratzinger, por, enquanto Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (antes de ser nomeado papa, como Bento XVI), ter procurado dar uma justificação teológica a uma “treta” escrita “à medida de João Paulo II” e para “justificar a beatificação” de Jacinta e Francisco.

“Foi um serviço hediondo do ponto de vista da teologia, que nunca aceitou a beatificação ou a canonização de crianças”, frisou.

“Sou crítico por convicção profunda. Um dia a igreja há de dizer que quem teve razão fui eu porque isto é contra toda a tradição da igreja. Nenhuma aparição do mundo faz parte da fé católica. Não se pode transformar uma coisa que não faz parte da fé naquilo que parece ser o suprassumo da fé”, disse.