Neste protesto nacional, os motociclistas contestam “a manipulação dos indicadores de sinistralidade e do respetivo número de vítimas, em prol de ‘lobbies’ económicos” e a proposta de obrigatoriedade das inspeções às motos, “que não vão alterar os índices de sinistralidade", segundo um comunicado dos promotores.

Segundo António João, do Grupo de Ação Motociclista (GAM), que organiza a concentração, afluíram ao Rossio, no centro de Lisboa, cerca de três mil motociclistas. Os motociclistas têm programado um desfile em Lisboa, que terminará na Assembleia da República, onde vão entregar um manifesto. Além de Lisboa, o protesto reúne centenas de motociclistas no Porto e em Faro, estando ainda previstas concentrações em Coimbra, no Funchal e em Ponta Delgada.

Mais de mil motociclistas iniciaram, pelas 16:00, na avenida dos Aliados, no Porto, um desfile de 10 a 12 quilómetros, numa coluna de “cerca de 150 metros” que deve demorar “duas horas” a concluir o percurso, segundo a PSP. Este “passeio” vai ser acompanhado por cerca de 25 elementos da polícia, indicou, em declarações à Lusa, António Antunes, subcomissário da Divisão de Trânsito da PSP do Porto.

O desfile vai passar pelas ruas das Carmelitas, Sá da Bandeira, Gonçalo Cristóvão, Praça da República, rua e rotunda da Boavista, rua Júlio Dinis, Palácio de Cristal, Hospital de Santo António e Clérigos, até à avenida dos Aliados, ponto de partida da iniciativa onde, pelas 15:30, estavam concentradas “mais de mil motos e cerca de 1.500 pessoas”, segundo António Antunes.

Centenas de motociclistas protestaram também hoje, em Faro, contra a obrigatoriedade de inspeções periódicas a motociclos, medida que o Governo deverá implementar nos próximos meses e que classificam como "injusta" por ser fundamentada em "interesses económicos".

A caravana de protesto que reuniu várias centenas de motociclistas em Faro iniciou-se no Largo de São Francisco, no centro da cidade, de onde seguiu em direção ao aeroporto, num percurso de aproximadamente seis quilómetros, terminando depois novamente na baixa de Faro, no Jardim Manuel Bívar. "Inspeção garante receita, não previne sinistralidade", "Não a esta farsa" e "Segurança sim, negócio não" eram algumas das frases expostas nas motos dos participantes no protesto.

Em declarações à Lusa, Rui Baltazar, do Grupo de Ação Motociclista (GAM), acusou o ministro da Administração Interna de "não dizer a verdade" quando invoca questões de segurança para estender também às motos a realização de inspeções periódicas obrigatórias.

"É uma medida injusta porque não tem a ver com questões de segurança, mas sim económicas", sublinhou, alegando que só 0,3% dos acidentes envolvendo motos se devem a motivos de segurança e acusando o Governo de querer arrecadar mais receita com esta medida, anunciada em janeiro.

Outra das reivindicações do grupo pretende-se com a intenção do Governo em tornar obrigatória a carta de condução para quem conduzir motociclos de 125 cm3 de cilindrada, mesmo que tenha já carta de automóvel.

"Não tem razão de ser, até porque toda a Europa se rege por essa diretiva", observou Rui Baltazar, indicando que, apesar do aumento de acidentes registado em 2016 e 2017, que considera que foi pontual, o número de acidentes com motos "tem vindo a diminuir" desde 2009.

Há quase 40 anos que Faro recebe, todos os anos, uma concentração internacional de motos, o que faz desta uma cidade com uma forte tradição "motard".

Segundo a polícia, também em Coimbra cerca de 200 motociclistas se manifestaram na tarde de hoje, no âmbito do protesto nacional.

Uma fonte da PSP disse à agência Lusa que a iniciativa ainda decorria, às 16:00, na praça da República, uma zonas mais movimentadas da cidade, frequentada sobretudo por estudantes universitários. A concentração realizou-se "com normalidade, não havendo àquela hora qualquer perturbação da ordem pública, sublinhou.

Cerca de 250 motociclistas associaram-se à manifestação no Funchal, tendo em caravana percorrido a marginal da cidade numa iniciativa “apenas ruidosa e pacifica”, após a leitura do manifesto que será entregue na Assembleia da República.

“Quisemos também manifestar a nossa posição contra a implementação das inspeções periódicas obrigatórias para as motas”, disse à agência Lusa o vice-presidente da Associação de Motociclismo da Madeira.

Nélio Olim ainda considerou que esta iniciativa é um protesto contra o “retrocesso e um voltar ao passado em termos de legislação europeia”, ou seja, a exigência de exame de condução para veículos com duas rodas até 125 cc e 11 kw.

Nos Açores, foram cerca de 150 os motociclistas da ilha de São Miguel que se manifestaram nas Portas da Cidade, em Ponta Delgada, pelas 14:00 locais (mais uma em Lisboa) para se associarem à manifestação que decorre hoje em todo o país para defesa dos interesses de todos os motociclistas.

O Clube Motard da ilha de Santa Maria, do grupo oriental do arquipélago dos Açores, chegou a apresentar ao Governo Regional dos Açores uma proposta em 2016 para alteração da legislação regional relativa às inspeções dos motociclos.

Os representantes associativos foram ainda chamados à comissão de economia da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA) no final desse mesmo ano para debater uma possível alteração à lei regional.

Em janeiro, o ministro da Administração Interna anunciou que as inspeções periódicas a motociclos vão avançar no primeiro semestre de 2018, justificando esta medida com o aumento do número de acidentes mortais com motociclos em 2017.

Fonte do Ministério da Administração Interna disse à Lusa que o secretário de Estado da Proteção Civil, José Tavares Neves, vai receber, na terça-feira, a Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) e a Federação de Motociclismo de Portugal (FMP), após terem pedido uma audiência ao ministro.

(Notícia atualizada às 16h53)