“Chegámos a um momento em que é preciso protestar energicamente para que os políticos entendam que o país está mal, que não podem estar de costas para o povo. Ninguém quer ditadura, nem passos antidemocráticos mas é preciso lutar porque é o futuro que está em causa, um futuro que cada dia vemos mais complicado”, explicou um luso-descendente à Agência Lusa.

Com 24 anos e a estudar engenharia, Marcos Lopes, encontrava-se junto a dezenas de companheiros e amigos que se concentraram na autoestrada de Prados del Este, para marchar, “para pressionar, para que ativem a recolha de assinaturas para revogar (o Presidente) Nicolás Maduro”.

“Uma ideologia política não pode estar por cima do bem-estar da população. O país está em crise económica, social e política e os ‘politiqueiros’ não entendem a gravidade da situação, que isto (a crise) está além do ser de esquerda ou de direita ou dos abusos históricos que ambas tendências cometeram ao longo da história”, explicou outro luso-descendente à Agência Lusa.

Roberto Fernandes, estudante de arquitetura, acredita “que ainda é possível obrigar o Governo a dar um passo atrás nas políticas erróneas que aplica desde há 17 anos” e fazer também “a oposição refletir sobre que os interesses do país devem ter prioridade sobre os pessoais”.

“Tenho dois irmãos a viver no estrangeiro, queria exercer a minha profissão aqui, mas, mesmo sendo de classe média, os meus pais têm dificuldades para pagar-me os estudos e está difícil conseguir um bom trabalho temporário. Além disso as perspetivas são muito negativas, prevejo que depois de licenciado terei um salário de menos de 100 dólares por mês pelo que a alternativa é emigrar”, frisou o luso-descendente de 21 anos de idade.

Filomena Vieira encontrou-se com vários amigos em Altamira para, juntamente com milhares de venezuelanos, ouvir os discursos dos líderes da oposição e “ajudar a fazer volume para que o mundo veja que o povo está inconformado com as políticas do Governo”.

“Tenho quase 50 anos, nunca vivi uma situação tão complicada, em que o dinheiro não chega, em que não há o que comer, os serviços são muitos caros e de má qualidade e há cada vez mais repressão”, disse vincando que “é preciso lutar para que haja referendo”

Os protestos de hoje, designados pela oposição como “tomada da Venezuela”, ocorreram em várias cidades do país, entre eles Caracas, Barquisimeto, Maracay, Valência, San Cristóbal e San António del Táchira (fronteira com Colômbia), havendo informações não confirmadas de que pelo menos duas dezenas de pessoas foram detidas no município Sucre (a leste da capital).

A oposição denunciou que dez estações do Metropolitano de Caracas estiveram encerradas e que funcionários da Guarda Nacional Bolivariana (GNB, polícia militar) e da Polícia Nacional Bolivariana, colocaram pontos de controlo móveis, dificultando a circulação de viaturas de cidadãos desde várias regiões até Caracas, em particular na Autoestrada Regional do Centro e a Autoestrada Gran Mariscal de Ayacucho.