“Santos, levei um tiro na cabeça. O (Carlos) Caetano está morto. Ajuda-me”, foram as palavras que Carlos Santos, militar da GNR de Aguiar da Beira, ouviu do seu colega António Ferreira quando abriu a porta no dia 11 de outubro de 2016.

Carlos Santos foi a primeira testemunha a ser hoje ouvida no Tribunal da Guarda, onde decorre o julgamento de Pedro Dias, que está acusado de três crimes de homicídio qualificado sob a forma consumada, três crimes de homicídio qualificado sob a forma tentada, três crimes de sequestro, crimes de roubo de automóveis, de armas da GNR e de quantias em dinheiro, bem como de detenção, uso e porte de armas proibidas.

Segundo Carlos Santos, como estava preocupado em manter António Ferreira acordado até chegar o socorro que tinha solicitado e em avisar os seus superiores do sucedido, não questionou o colega sobre quem o tinha baleado.

Carlos Santos deslocou-se ao local onde foi encontrado o carro-patrulha da GNR, onde já estavam dois colegas que o informaram que Carlos Caetano se encontrava dentro da mala.

Depois de ter avisado os familiares de Carlos Caetano sobre o que se tinha passado e de passar pelo posto, foi para o terreno à procura de provas.

Pelos pingos de sangue e outros indícios que encontrou, Carlos Santos supõe que António Ferreira terá percorrido cerca de 1,5 quilómetros no sentido oposto e caído. Só depois seguiu na direção da sua casa.

O militar esteve também junto ao pinheiro onde António Ferreira terá sido baleado e onde depois a Polícia Judiciária encontrou um invólucro.

Carlos Santos caracterizou Carlos Caetano e António Ferreira como “militares calmos, serenos, sossegados”, que preferiam “levar as pessoas a bem”, pela palavra.

Em declarações aos jornalistas durante a pausa para almoço, o advogado Pedro Proença, que representa a família de Carlos Caetano e António Ferreira, considerou que se tratou de “um testemunho fundamental”.

“Foi o primeiro contacto com o guarda Ferreira, que ouviu a versão do militar, foi dos primeiros homens a reconstituir o percurso do militar e, nessa medida, é sempre um testemunho importante e relevante”, frisou.

Durante a manhã foram ouvidos mais três militares da GNR, entre os quais Vitor Silva, que estava no mesmo turno de Carlos Caetano e António Ferreira, mas no posto de atendimento de Aguiar da Beira.

Vitor Silva contou que os militares pediram informações sobre a matrícula de uma carrinha que estava parada junto ao futuro hotel das Caldas da Cavaca, com ‘jerricans’ de gasóleo na parte traseira e “um indivíduo lá dentro a descansar”, mas não lhe pareceu que houvesse alguma tensão.

Cerca das 04:20, ligou a Carlos Caetano para saber se não iam ao posto fazer uma pausa para café, como era habitual, mas este não atendeu. Telefonou então a António Ferreira, que lhe respondeu: “Não te preocupes, está tudo bem, já vamos”.

Já o militar Carlos Cruz, do posto de Fornos de Algodres, contou que Carlos Caetano lhe ligou às 02:58 a pedir informações sobre o homem identificado, Pedro Dias, que dizia ser funcionário de uma empresa desse concelho.

“Eu respondi que a namorada ou companheira era dona da empresa, mas que ele não trabalhava lá”, contou, acrescentando que também deu a informação de que ele era “conhecido por ter um feitio esquisito”.

No entanto, disse não se ter apercebido de nada estranho e que até se ofereceu para ir ao local, mas que a resposta foi “que o senhor em causa estava calmo e que se precisasse de alguma coisa comunicava”.

Durante a manhã foi ainda ouvido Jorge Leitão, que na altura era comandante do posto de Aguiar da Beira, e justificou a patrulha feita junto ao hotel com o facto de aí serem frequentes furtos e de, ultimamente, se terem registado vários incêndios florestais.

Depois de ter informado os seus superiores, Jorge Leitão deslocou-se para o local onde tudo teria começado, o terreno junto ao hotel em construção, onde encontrou sangue no chão e um invólucro.

O julgamento prossegue durante a tarde.