O velório da cançonetista realiza-se hoje a partir das 18:00 locais (17:00 em Portugal), na sala 18 do Tanatório de Collserola, em Barcelona.

Madalena Lucília Iglésias Doval nasceu a 24 de outubro de 1939 na freguesia de Santa Catarina, em Lisboa. Madalena Iglésias iniciou carreira no Centro de Preparação de Artistas, na ex-Emissora Nacional, e em 1966 venceu o Festival RTP da Canção com o tema “Ele e Ela”, de Marco Canelhas.

Na altura, a artista já se tinha apresentado em 1959 na televisão espanhola e em 1960 foi eleita por votação popular, através de subscritos, Rainha da Rádio e da Televisão.

Em 1962 representou Portugal no Festival de Benidorm, que lhe abriu definitivamente as portas do mercado internacional. Realizou digressões por Espanha e pela América do Sul, gravou para a discográfica Belter e concorreu a diferentes festivais internacionais, como o Palma de Maiorca e o de Aranda del Duero, que venceu em 1964.

Em 2008, em declarações à Lusa, a propósito da publicação da sua fotobiografia “Meu nome é Madalena Iglésias”, de autoria de Maria de Lourdes de Carvalho, a intérprete afirmou que sempre se sentiu perseguida pelo complexo da beleza, apesar de reconhecer que "estava à frente" do seu tempo. No texto de abertura da sua fotobiografia, a cantora referiu-se à sua carreira, que ultrapassou as fronteiras nacionais, como “um caminho percorrido com entusiasmo, alegria, êxitos e algumas nuvens”, e garantia: “Tenho um pouco do que vibrei!”. “Ao escolher a minha profissão/vocação, a procurei cumprir sempre com rigor e muita dignidade”, afirmou.

Além de “Ele e Ela”, do repertório da cantora fazem parte, entre outras, as canções "Silêncio Entre Nós", "Poema de Nós Dois", "Canção para um poeta", "Canção Que Alguém Me Cantou", "É Você, "Oração Na Neve" e "De Longe, Longe, Longe…", “Canção de Aveiro”, “Cuando Sali de Cuba”, “Ven esta noche”, “La frontera” e “La más bella del baile”.

A cantora passou também pelo cinema, tendo participado nos filmes "Uma Hora de Amor", de Augusto Fraga, e "Canção da Saudade", de Henrique Campos. Em, 1972 acaba por se casar e afastar da vida artística.

Mais recentemente, em 2008, participou no espetáculo intitulado "Num País Chamado Simone", que celebrou os 50 anos de carreira de Simone de Oliveira, cantando "No Teu Poema" com a celebrada da noite.  Madalena Iglésias mudou-se para Espanha em 1987, onde veio a falecer, aos 78 anos, numa clínica em Barcelona.

A cantora Simone de Oliveira lamentou a morte de Madalena Iglésias, considerando que ficará para sempre ligada à história da música portuguesa com “Ele e Ela”, com o qual venceu o Festival da Canção. “Tenho muito pena, é um grande desgosto. Foi uma pessoa com quem eu convivi, apesar das rivalidades à época. Já não a via há muitos anos, desde que a convidei para vir ao espetáculo dos meus 50 anos de carreira no Coliseu”, adiantou.

Simone de Oliveira lembrou que há 30 anos, na década de 1960, existia um quarteto: a Simone, o António [Calvário], a Madalena e o Artur [Garcia]. “Ela é a primeira do quarteto a morrer. É verdade que fomos rivais nessa época. Ela tinha um grupo de fãs muito complicado, mas eram coisas de miúdas de 24/25 anos. (…) Depois foi para Barcelona, teve uma vida boa sem preocupações financeiras”, disse.

No entender de Simone de Oliveira, o nome de Madalena Iglésias fica na história da música portuguesa, marcando uma época. “O que fica? Como eu costumo dizer: o resto são cantigas! Ficam as cantigas, o “Ele e Ela” e a birra entre a Madalena e a Simone”, concluiu.

Em declarações à agência Lusa, António Calvário, que trabalhou com Madalena Iglésias na música do filme “Sarilho de fraldas” e em “Uma hora de amor”, entre outras, considerou a cantora como “uma amiga de sempre”, com quem fez várias digressões em conjunto.

“Recordo as digressões a nível mundial, mais do que uma vez fizemos os Estados Unidos e o Canadá”, afirmou António Calvário, que sublinhou que sempre manteve contacto próximo com Madalena Iglésias e a família.

“Sempre que ela vinha a Portugal telefonava e nós encontrávamo-nos e íamos almoçar, com um amigo comum. Foi a pessoa com quem mais lidei e a colega com quem mais trabalhei”, acrescentou o artista, que destacou também a grande cumplicidade que havia entre ambos.

“Foi uma amiga muito especial, nunca tivemos a mais pequena desavença, apoiávamo-nos muito mutuamente e éramos muito cúmplices”, lembrou.

O cantor e compositor Tozé Brito lamentou hoje também a morte de Madalena Iglésias, considerando que a cantora marcou uma época e é um nome de referência na música portuguesa.

“É um nome de referência da música portuguesa. É inevitável não falar da Madalena Iglésias, quando se fala da história da música portuguesa. Nesse sentido, tenho muito respeito por ela e imensa pena da sua morte”, disse.

Em declarações à agência Lusa, Tozé Brito, que não trabalhou nem escreveu nada para Madalena Iglésias, disse ter acompanhado “aquela geração", que incluía nomes como Simone de Oliveira e António Calvário, entre outros.

“Havia três ou quatro nomes que marcaram aquela época da música portuguesa, principalmente a Simone que foi ‘rival’ da Madalena Iglésias. Elas competiam por um lugar de rainhas da música portuguesa, de primeira dama na música portuguesa”, salientou.

Tozé Brito disse ainda que Madalena Iglésias “foi uma grande senhora, uma mulher com comportamento exemplar, lindíssima, com muito boa presença em palco e que um ídolo da televisão”.

A RTP concorreu pela primeira vez ao Festival da Eurovisão da Canção em 1964 com “Oração”, defendida por António Calvário. Madalena Iglésias, Duarte Mendes, Fernando Tordo, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho, Carlos Paião, Tonicha, Simone de Oliveira, Eduardo Nascimento, Carlos do Carmo, José Cid, Manuela Bravo, Dora, Adelaide Ferreira e Lúcia Moniz foram alguns dos representantes da RTP ao Festival da Eurovisão. No ano passado, a RTP, pela primeira vez, venceu o certame eurovisivo com a canção “Amar pelos Dois”, de Luísa Sobral, interpretada por Salvador Sobral.

(Notícia atualizada às 11h10)

Porque o seu tempo é precioso.

Subscreva a newsletter do SAPO 24.

Porque as notícias não escolhem hora.

Ative as notificações do SAPO 24.

Saiba sempre do que se fala.

Siga o SAPO 24 nas redes sociais. Use a #SAPO24 nas suas publicações.