O antigo chefe do Governo apresenta no domingo, em Santarém, a sua candidatura a presidente do PSD nas diretas de 13 de janeiro, depois de ter perdido nas duas anteriores ocasiões em que foi a votos com outros candidatos (e uma terceira em que viu a sua moção derrotada). Quando foi presidente do partido, não teve adversários, tendo sido eleito em Conselho Nacional e depois confirmado em Congresso.

Advogado, Pedro Miguel Santana Lopes nasceu a 29 de junho de 1956 (no dia do santo que lhe deu o nome) em Lisboa, foi presidente das Câmaras da Figueira da Foz e de Lisboa, é advogado e era, desde 2011, provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, cargo do qual saiu na sexta-feira para tentar reconquistar a presidência dos sociais-democratas.

Estudou no Liceu Padre António Vieira, onde conhece Carmona Rodrigues e Francisco Louçã. Já na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, torna-se amigo de Durão Barroso, apesar da distância política que então os separava (Durão militava no MRPP), e chegam a dividir casa, sem antever os confrontos partidários que teriam no futuro.

A nível governativo, Santana Lopes estreou-se cedo e começou por exercer os cargos de adjunto do ministro Adjunto do primeiro-ministro do IV Governo Constitucional e de assessor jurídico do gabinete do então primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, em 1980.

Militante do PSD desde 1976, chega pela primeira vez ao parlamento pelas listas sociais-democratas em 1980. A morte de Sá Carneiro marca-o muito – até hoje não gosta de andar de avião – e faz questão de se referir ao partido como PPD/PSD, numa homenagem às suas origens. Torna-se num dos rostos da oposição interna a Francisco Pinto Balsemão e participa na tendência Nova Esperança, ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa e José Migue Júdice.

Em 1985, no Congresso da Figueira da Foz, apoia Cavaco Silva, que o chamaria depois para secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, no seu primeiro Governo. Dois anos depois, Santana troca Lisboa por Bruxelas, candidatando-se como cabeça de lista do PSD às eleições europeias. Regressa ao poder como secretário de Estado da Cultura, entre 1989 e 1994, nos dois Governos em que Cavaco Silva alcançou a maioria absoluta.

Em 1995, após a saída de Cavaco, Santana lança-se na luta pela liderança, com a intenção de se candidatar contra Fernando Nogueira e Durão Barroso, mas acaba por reunir poucos apoios e não chega a ir a votos.

Fervoroso sportinguista, candidata-se e vence a presidência do clube lisboeta, mas a aventura desportiva dura apenas um ano: em 1996 entra na disputa da liderança do PSD quando, no Congresso de Santa Maria da Feira, é desafiado por Marcelo Rebelo de Sousa e apresenta uma moção que sai derrotada, já não indo pessoalmente a votos.

Apesar de ter sido seu adversário interno, Marcelo convoca Santana Lopes para as eleições autárquicas de dezembro de 1997, que o transformam em presidente da Câmara da Figueira da Foz, com perto de 60% dos votos.

Três anos depois, após a demissão de Marcelo, Santana volta a concorrer à liderança do PSD, medindo forças com Luís Marques Mendes e com Durão Barroso, que acabou por conquistar o lugar. Consegue 33% dos votos e Mendes 16%.

Esta foi a disputa que, segundo uma entrevista anos antes ao Expresso, considerava “estar escrita nas estrelas”. Esse Congresso de Viseu ficou marcado pela resposta de Durão Barroso que o classificou como um “candidato astrológico” e “uma mistura de Zandinga e Gabriel Alves”.

Com Durão na liderança do PSD, volta a reaproximar-se do velho amigo e não resiste a mais um desafio: contra todas as sondagens, Santana ganha a Câmara de Lisboa, batendo o socialista João Soares nas autárquicas de dezembro de 2001, ao mesmo tempo que Rui Rio vencia também inesperadamente no Porto.

Exerce o mandato na capital entre janeiro de 2002 e julho de 2004 e, depois, de março a setembro de 2005. Entre esses dois períodos, Santana Lopes assumiu a liderança do PSD - quando Durão Barroso saiu para ocupar o cargo de presidente da Comissão Europeia em Bruxelas - e o cargo de primeiro-ministro, mas sem ir a votos.

Menos de seis meses depois de dar posse ao Governo, Jorge Sampaio acaba por dissolver a Assembleia da República, pouco depois da demissão do ministro adjunto e número dois do Governo, Henrique Chaves, e de um artigo de Cavaco Silva, que defendia que “a boa moeda expulsa sempre a má moeda”, e que foi interpretado como uma crítica ao executivo de Santana.

Ficou célebre nessa altura uma frase de Santana Lopes sobre as críticas internas ao Governo: "Este é um Governo a quem ninguém deu quase o direito de existir antes dele nascer, e que, depois de nascer através de um parto difícil teve que ir para uma incubadora e vinham alguns irmãos mais velhos e davam-lhe uns estalos e uns pontapés".

Nas eleições que se seguem, o PS liderado por José Sócrates alcança a sua primeira maioria absoluta, e Santana Lopes volta à Assembleia da República e despede-se dos militantes em Congresso com a promessa de que irá “andar por aí”.

Quando Luís Filipe Menezes ganha a liderança do partido a Marques Mendes em outubro em 2007, assume a presidência do grupo parlamentar.

Em 2008, disputa pela segunda vez a liderança do PSD, que perde para Manuela Ferreira Leite, ficando atrás do segundo candidato mais votado, Pedro Passos Coelho, mas todos com votações na casa dos 30%.

Em 2009 foi, de novo, candidato ao município de Lisboa mas perde para António Costa.

Nas eleições presidenciais de 2011, chegou a ponderar uma candidatura mas acabou por afastar essa hipótese.

Aos 61 anos, divorciado e pai de cinco filhos, Santana voltará, nove anos depois, a disputar a presidência do partido, após já ter anunciado no passado a saída da vida política ou garantido que não voltaria a candidatar-se a líder do PSD.

Resta saber se estará de regresso o espírito dos versos do hino que marcou a sua campanha em 2005, “O Menino Guerreiro”: “Um homem se humilha/se castram seus sonhos/seu sonho é sua vida/e vida é trabalho/E sem o seu trabalho/o homem não tem honra/E sem a sua honra/se morre, se mata”.