Selena Leem, de 20 anos, chegou hoje a Lisboa com outros seis jovens que nasceram em lugares onde a subida do nível dos oceanos ameaça vidas, economias e a própria existência das nações.

"A inação dos países desenvolvidos contribuiu para isto estar acontecer", disse Selena Leem à agência Lusa à margem da sua intervenção no Pavilhão do Conhecimento em Lisboa, onde aportou hoje o "Barco da Paz", um navio de cruzeiro com as Nações Unidas, em Nova Iorque, como destino para aumentar a consciência sobre a catástrofe que países como Seychelles, Trinidad e Tobago ou Belize já enfrentam.

Naquele país arquipélago do Pacífico com cerca de 50 mil habitantes, Selena, natural de Majuro, a capital das ilhas Marshall, já tinha ouvido o avô falar-lhe do dilúvio com que acreditava que Deus fustigaria o mundo no fim dos tempos.

"Isso assustou-me, sobretudo quando comecei a ver certas coisas a acontecer. Os peixes que apanhávamos na maré baixa para comer começaram a aparecer a boiar, mortos na água que estava a ficar demasiado quente".

Para Selena, a luta pela consciência das alterações climáticas é pessoal: "as campas dos meus avós e da minha mãe ficam no quintal de minha casa, que fica inundado sempre que as marés altas afetam a ilha".

"Quando vejo a maré a ultrapassar as proteções, dói-me. Penso 'como se atrevem a desrespeitar esta terra preciosa em que eles descansam?'", afirmou.

As Ilhas Marshall, onde os Estados Unidos fizeram mais de 60 testes nucleares durante a Guerra Fria, têm um problema suplementar com essa herança radioativa, que tornou parte do território inabitável durante 25.000 anos, destacou.

O governo das ilhas adotou medidas como banir o uso de plástico e esferovite nas embalagens e alargar o uso de energia solar a 98 por cento do território, disse Selena Leem, reconhecendo que, no fundo, isso não fará qualquer diferença.

Kya Lal, uma jovem advogada natural do arquipélago das Fiji, no Pacífico Sul, salientou que a lei internacional faz depender as zonas económicas da extensão do território, o que no caso de arquipélagos em que o mar toma o lugar da terra faz com que a própria existência dos países esteja em causa.

A água salgada que continuamente faz erodir a costa infiltra-se nos cursos de água potável, tornando-a insalubre e venenosa para as plantas de que os habitantes dependem para se alimentar, acrescentou.

Matea Nauto, de Kiribati, também no Pacífico, é um dos "30 mil jovens que querem continuar a viver no seu país", também ameaçado pela subida do nível das águas.

"Os países desenvolvidos costumam pensar no impacto que as alterações climáticas poderão ter na sua economia, como podem ameaçar a sua maneira de fazer negócios. Nós pensamos que é uma ameaça à nossa sobrevivência, que continuará se os países desenvolvidos não mudarem a sua maneira de fazer negócios", resumiu.

Londres, Edimburgo, Bordéus e Reykjavík são as próximas paragens na viagem do Peace Boat, que culminará na ilha de Manhattan, Nova Iorque, onde os diplomatas e responsáveis das Nações Unidas também serão convidados para conhecer a realidade vivida por centenas de milhares de pessoas em países para os quais o aquecimento global é uma sentença de morte.

Belize e Maldivas são os outros países representados nesta embaixada flutuante.