Objeto da tese de doutoramento em Estudos Artísticos da encenadora que quis apresentar um trabalho sobre o teatro "enquanto transformador e meio de reinserção destes grupos de discriminação", a peça leva cinco meses de preparação "sempre em contexto prisional", disse à agência Lusa a encenadora.

Cinco homens e três mulheres juntaram-se a quatro atores e músicos profissionais para ensaios sempre às segundas-feiras em que tiveram de "baixar à condição dos reclusos, sendo revistados, ficando incontactáveis e ensaiando sempre com barulho de fundo", descreveu Luísa Pinto.

Da autoria de Helder Wasterlain e João Maria André a peça conta com as participações de Fernanda Lapa, Fernando Soares, João Melo, Mário Moutinho e de Nuno Meireles e Rui David na interpretação musical.

Fernanda Lapa, que trabalhou hoje pela primeira vez com o restante elenco no ensaio que decorreu nas instalações do MIRA - artes performativas, disse à Lusa "ter sido esta a primeira vez que trabalhou num contexto destes".

"Sinto-me uma colega mais velha deles", disse a atriz que dos colegas reclusos "sentiu motivação" e que os viu "muito certinhos em palco". "Para mim isso é um descanso", frisou.

Da peça, Fernanda Lapa disse esperar que os reclusos "levem a mensagem de esperança, motivação e de autoestima", para além da possibilidade de "representarem e serem acarinhados pelo público e de virem a conhecer-se a si mesmos através do que tem de dar em representação".

Manuel Cordeiro é um dos reclusos que "trinta e tal anos depois" volta a subir ao palco para participar na mesma peça e fazer o mesmo papel.

"É interessante, hoje tenho uma perspetiva diferente ao participar na peça. Estamos todos a viver com um enorme entusiasmo e já começo a sentir o friozinho que precede a estreia", revelou à Lusa.

Paula Gonçalves "nunca tinha entrado numa peça de teatro" e disse ter encontrado nesta participação "mais liberdade".

"Estou a gostar muito da experiência", confessou a reclusa que trabalha em artes e que se deixou encantar pelo guião, deixando elogios aos atores profissionais com quem tem trabalhado.

Dentro de um mês com saída precária, a reclusa deixou elogios ao estabelecimento prisional "pelo voto de confiança", reconheceu que o "bichinho do teatro ficou" e disse "estar disponível para continuar ligada a este mundo" uma vez em liberdade.

A peça vai estar em cena quinta e sexta-feira, a partir das 21:30, sendo no primeiro dia seguido de uma tertúlia.

O evento enquadra-se na iniciativa "Quintas Nómadas" que se iniciaram em setembro de 2016 e acontecem todos os meses sempre às quintas-feiras, no MIRA - artes performativas.