“Muitos deles nem puderam tirar férias neste verão”, disse o responsável à Lusa, no dia em que foi conhecida a acusação, que envolve 28 arguidos, entre os quais o ex-primeiro ministro José Sócrates.

Questionado pela Lusa sobre a demora da fase de inquérito, o magistrado salientou a “complexidade do processo”, no âmbito do qual tiveram de ser feitas diligências no estrangeiro e ouvidas centenas de testemunhas.

“A própria descrição dos factos revela esquemas intricados” de ocultação de dinheiro e “tudo isso implica dificuldades na investigação”, disse, realçando o empenho de todos os magistrados do Ministério Público numa “investigação muito complexa”.

“O tempo que demorou foi o necessário para deduzir uma acusação de 4.000 páginas”, disse António Ventinhas, salientando que só a acusação é o equivalente a uma dezena de livros grossos.

Agora os factos estão fixados e podem ser amplamente discutidos, há pessoas concretas e factos concretos, afirmou.

Questionado sobre o facto de que um processo de tal dimensão se arriscar a ficar anos nos tribunais, Ventinhas disse que mesmo assim foram extraídas 15 certidões (as 15 certidões podem dar origem a outros tantos processos autónomos).

“Muitas situações estão correlacionadas, não podiam ser partidas, as que se podiam desligar foram tiradas. Há casos em que é possível partir os processos, neste caso é mais difícil”, explicou.

O Ministério Público acusou hoje José Sócrates pela prática de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, 16 de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documentos e três de fraude fiscal qualificada, na ‘Operação Marquês’.

Uma nota da Procuradoria-Geral da República, hoje divulgada e que dá conta da acusação dos 28 arguidos da ‘Operação Marquês’, indica que o ex-primeiro ministro está acusado de 31 crimes económicos.

O Departamento Central de Investigação e Ação penal acusou também o banqueiro Ricardo Salgado por 21 crimes económicos e financeiros, e o antigo presidente da PT Zeinal Bava de cinco crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada.

Henrique Granadeiro, ex-administrador da PT está acusado de corrupção passiva (1 crime), branqueamento de capitais (2), peculato (1), abuso de confiança (1) e fraude fiscal qualificada (3), e o ex-ministro e antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos Armando Vara de cinco crimes: corrupção passiva de titular de cargo político (1), branqueamento de capitais (2) e fraude fiscal qualificada (2).