Os ovos chegam na primavera e no verão, normalmente do Brasil, de onde são retirados dos ninhos por traficantes, que têm “um grande conhecimento do que estão a fazer”. São pessoas “muito bem apetrechadas”, contou à agência Lusa a curadora das aves do Zoo, Telma Araújo.

“Os carros que vão para a floresta têm incubadoras, todos os exames que fazemos aqui os traficantes já fizeram. Nunca recebi um ovo sem um embrião”, revelou.

A equipa do Zoo faz todo o trabalho de maternidade. Nem sempre é possível recuperar os ovos, mas numa das incubações, a taxa de sucesso atingiu os 70 por cento. “Quando me perguntam como é possível, não sei responder. Só posso dizer que é com muito esforço e dedicação”, afirmou a bióloga.

As crias exigem cuidados exclusivos, idênticos aos de um bebé. Têm de ser alimentadas com uma seringa, de três em três horas, das 06:00 às 22:00. A papa é preparada no momento e tudo tem de ser lavado e desinfetado.

“Temos de chegar pelas 04:00/05:00 para preparar tudo e no final sentimo-nos como uma mãe que acabou de dar de mamar e cuidar do bebé e tem de voltar a fazer tudo outra vez”, descreveu a curadora.

O tráfico é considerado uma das principais causas de extinção de espécies, pelo que a Associação Europeia de Zoos e Aquários, de que o Jardim Zoológico faz parte, vai dedicar o ano de 2018 a esta temática, sob o lema “A Floresta Silenciosa”.

Portugal é uma porta de entrada na Europa. O tráfico que chega ao país tem outros destinos. “Não é para ficar cá”, disse a especialista, estimando em centenas e milhares de euros o valor que as aves atingem no mercado.

Alguns dos papagaios que integram atualmente a população do Zoo, nascidos destes ovos, têm valores comerciais estimados entre 350 a 500 euros. Uma arara pode chegar aos 2.000 euros. Para espécies já em risco de extinção não há valor no mercado.

Este ano não chegaram ovos ao Zoo, mas há outros centros para onde são encaminhados. “A nível geral, o tráfico não está melhor, pelo contrário”, garantiu a curadora.

Quando os ovos começam a eclodir, é sempre uma surpresa. Normalmente, há várias espécies na mesma remessa: ”Quando temos sucesso, nasce-nos uma arara, depois um papagaio, depois uma coruja…”.

Foi o que aconteceu com Yeti, a coruja-do-mato-tropical que nasceu entre as araras e deixou a equipa sem saber o que fazer.

“Ninguém sabia o que era aquela coisa minúscula, cheia de penas brancas na cara. Ficamos a olhar e a pensar – O que é isto?”, recordou Telma Araújo, antes de apresentar a ave, hoje com a tonalidade acastanhada de um macho da sua espécie.

“Nunca temos muita informação, quando começam a eclodir, temos de encontrar os melhores meios para os fazer crescer. É muito complicado, mas muito desafiante. É muito giro”, confessou a responsável.

A alimentação é um problema até se perceber se é suficiente e adequada para fazer crescer os animais, fortes e saudáveis.

Yeti é a coqueluche do Zoo e serve para ilustrar os problemas associados ao tráfico, durante a apresentação de aves que é feita aos visitantes do parque.

O pico foi atingido em 2011, ano em que chegou um lote de ovos que viria a dar ao Zoo um dos seus emblemáticos papagaios de cauda curta: José Mourinho.

“Foi o primeiro a chegar, catalogado com o número 1, foi o primeiro a nascer. Era sempre o que comia melhor, o maior…”. Recebeu “o nome óbvio” para a equipa, em 2011, segundo a curadora, numa alusão à alcunha de “Special One” do treinador de futebol português.

Os ovos traficados são transportados junto ao corpo. “São pessoas que sabem tanto ou mais do que eu de espécies e reprodução, que sou considerada uma especialista”, indicou.

Do aeroporto até ao Zoo, são transportados em caixas térmicas, com a temperatura adequada.

De acordo com Telma Araújo, só em 2011 foram confiscadas cinco entradas de ovos no país, cada uma com um mínimo de 15 ovos.

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