Os comunistas também apresentaram um voto contra a "agressão ao povo da Síria" e "as operações de desestabilização visando sabotar as negociações de paz", mas o texto foi rejeitado por sociais-democratas, socialistas e democratas-cristãos, além das abstenções de BE e PAN.

No debate, o líder parlamentar comunista, João Oliveira, associou a mais recente ação militar norte-americana naquele país ao sucedido em 2003 - a intervenção da coligação internacional liderada pelos norte-americanos no Iraque, que levou à deposição de Saddam Hussein – e recordou o envolvimento do então Governo PSD/CDS-PP na Cimeira das Lajes, que juntou os líderes dos EUA, Reino Unido e Espanha.

"O uso de armas químicas tem de ser condenado e aquilo que aconteceu deve ser investigado. Diferente é dar por concluído aquilo que não se pode concluir. Ainda estamos à espera que Durão Barroso e Paulo Portas prestem esclarecimentos quanto às armas de destruição maciça sobre as quais diziam haver provas que não há", afirmou, em resposta ao democrata-cristão Telmo Correia.

Antes, o deputado centrista tinha acusado os representantes do PCP de, "em vez de juntarem a sua voz a todos [os partidos]", estarem "bloqueados em 1940 ou desde 1917, a dizer, mais uma vez, que a culpa é dos Estados Unidos"

"Tenham vergonha!", disse Telmo Correia, enquanto o deputado comunista Francisco Lopes gritava incessantemente a pergunta "quem foi?", referindo-se à autoria dos ataques na Síria.

Os Estados Unidos lançaram esta madrugada um ataque com 59 mísseis de cruzeiro contra a base aérea de Shayrat, de onde terão partido os aviões envolvidos no ataque com armas químicas que na terça-feira matou pelo menos 86 pessoas em Khan Sheikhun, no noroeste do país.

O deputado do PSD Sérgio Azevedo classificou o recurso a armas químicas como uma "cobardia sem rosto", recordando que, "desde 2011 morreram mais de 300 mil pessoas" perante uma "comunidade internacional que continua impávida e serena num jogo de passa-culpas",

Dirigindo-se ao deputado comunista João Oliveira, Sérgio Azevedo vincou que o conflito não se resolve com a continuidade do bloqueio do regime de al-Assad à intervenção de organizações internacionais.

"Entre Bashar Al-Assad, Putin e Trump, não há inocentes. Os inocentes são os que têm morrido numa guerra, essa sim ignóbil, que nós condenamos desde a primeira hora", declarou o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares.

A deputada socialista Lara Martinho afirmou ainda que "o PS condena este ataque químico, apelando ao fim da violência contra civis inocentes e à intervenção da comunidade internacional de forma a por fim a este grave, devastador e prolongado conflito".

O bombardeamento de terça-feira foi assumido pelas autoridades sírias que, no entanto, negaram categoricamente ter usado armas químicas.

Na versão do regime de Bashar al-Assad, o ataque atingiu um depósito de armas químicas da Frente Al-Nosra, contrabandeadas para a província de Idleb a partir da fronteira com o Iraque e a Turquia, e que foram escondidas em zonas residenciais da zona.

Em resposta ao ataque de hoje, a Rússia já anunciou o reforço das defesas antiaéreas da base e pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas.